- Vocês são as melhores amigas que alguém pode ter! – eu disse abraçando e , que retribuíam o meu abraço.
- Eu sei que nós vamos voltar a nos ver , eu sei! – disse sorrindo e se afastando do abraço.
Eu retribuí o sorriso entrando no carro, e depois de bater a porta abaixei o vidro da janela.
- Eu vou sentir muita falta daqui e principalmente de vocês – eu falei baixo deixando que as lágrimas tomassem conta do meu rosto. Minha mãe ligou o carro e acenou para elas. "Tchau meninas, se cuidem!" foi a última coisa que eu pude ouvir, e nós seguimos em frente. Eu pude ver e se distanciando pelo vidro do carro, e quando não dava mais para enxergá-las, voltei a me sentar normalmente no banco.
- Nós vamos voltar um dia? – perguntei para minha mãe, que mantinha seus olhos na estrada a sua frente.
- Não sei , só Deus sabe o que vai acontecer daqui pra frente... – ela respondeu e depois deu um leve suspiro, voltando a sua atenção para a estrada.
Eu não conseguia acreditar que ia me mudar e deixar minhas melhores amigas, que sempre foram tudo pra mim, para trás. Mas eu entendia os motivos da minha mãe, que sempre procurava fazer de tudo para melhorar nossas vidas.
Bom, minha vida já não era perfeita desde os meus 6 anos, quando meu pai sofreu um acidente de carro e não resistiu. Nós morávamos em Chicago e logo que meu pai morreu, mudamos para Nova York, pois minha mãe não queria continuar na casa onde nós vivíamos desde que eles eram casados. Fomos para NY e alugamos um pequeno apartamento, pois agora éramos somente eu e ela. No começo foi difícil para eu me acostumar, nem tanto para minha mãe, pois tinha parte de sua família por lá.
O tempo foi passando e minha mãe não demorou muito para arrumar outro cara, que por sinal eu nunca gostei. Quando eu fiz 9 anos ela se casou com esse mesmo, e minha vida ficou pior do que estava. O único motivo por eu ainda estar suportando tudo aquilo eram e . Elas sempre estavam do meu lado pra tudo, principalmente quando eu e minha mãe discutíamos por causa dele.
Quando fiz meus 14 anos, que na verdade fora mês passado, minha mãe tivera uma surpresa no dia do meu aniversário. Quando ela saiu de casa para fazer as compras para a festa, viu seu querido marido entrando no carro de uma mulher. Seguiu o carro e minutos depois o carro em que ele tinha entrado parou em frente a um motel. Depois daquele dia minha mãe resolveu que nos mudaríamos de novo. Eu entrei em choque, nós brigamos feio, mas nada mudaria a opinião dela, nada. Quando dei a notícia para e elas não conseguiam acreditar e choravam muito, assim como eu. Passamos nossos últimos dias juntas, e hoje estou aqui, partindo para Londres, meu mais novo lar.
CAPÍTULO 2
Chegando ao aeroporto, eu e minha mãe nos sentamos esperando o anúncio de nosso vôo. Permanecemos em silêncio, e percebi uma certa expressão de raiva e tristeza ao mesmo tempo na face de minha mãe. Não disse nada, apenas abaixei a cabeça e fiquei brincando com o cordão da minha blusa. Depois de algum tempo que estávamos sentadas ali, o vôo foi finalmente anunciado e minha mãe se levantou rapidamente, pegando as bagagens e em seguida dizendo para eu acompanhá-la.
- Ande logo , pare de andar nessa lerdeza toda! – minha mãe dizia apertando cada vez mais os passos.
- Calma mãe, a gente já chegou, ok? – eu disse em um tom calmo, tentando acalmá-la também.
Eu, sinceramente, não queria entender o porquê daquele jeito estranho dela. Entrei e me acomodei ao lado de minha mãe.
Ela continuava com aquela expressão no rosto e eu já estava ficando nervosa. Eu e minha mãe sempre fomos muito amigas apesar de discutirmos bastante por causa do Stiven, aquele maridinho dela, que agora não é mais, que eu sempre odiei... Eu não agüentava mais e resolvi perguntar:
- Vai mãe, o que foi dessa vez? Por que você está com essa cara? – eu disse, encarando-a nos olhos.
Ela olhou para mim de repente, parecendo ter acabado de sair de um transe.
- Erm, não é nada filha, não é nada... – ela disse cabisbaixa.
Eu não me convenci. Conheço minha mãe mais do que ela me conhece e por isso tornei a perguntar:
- Você pode enganar qualquer um dona Clara, menos a mim! Fala logo, o que é que você tem? – perguntei ainda encarando-a nos olhos. Ela me olhava com uma expressão pensativa, mas logo suspirou e abaixou a cabeça.
- Você sabe que eu o amo e que a última coisa que eu queria era deixá-lo pra trás. Não vai ser fácil , não vai ser – ela terminou de falar e virou-se para a janela, me deixando de boca aberta.
Não era possível, depois de tudo que aquele canalha tinha feito com ela, ela tinha coragem de dizer que o amava?
- Eu não agüento mais isso. Quer saber? Cansei – eu virei de costas para ela e fechei os olhos, tentando engolir o choro.
Eu realmente não acreditava no que ela tinha acabado de me dizer. Eu deixei que as lágrimas escorressem por meu rosto, e logo adormeci.
Senti uma mão acariciando meus cabelos. Abri os olhos lentamente e vi que era minha mãe. Ela mantinha um sorriso no canto dos lábios enquanto passava seus dedos por algumas mechas de meus cabelos, e quando me viu acordada, me encarou por um tempo e abriu um sorriso:
- Nós chegamos querida – ela disse baixinho, ainda me olhando.
- Já? Nossa, eu dormi quanto tempo? – falei me espreguiçando; minha mãe soltou um riso baixinho.
- A viagem inteira meu amor. O que te deu para dormir tanto assim? – ela perguntou e eu apenas olhei pra ela pensando no que responder.
- Ah, não sei mãe. Eu tava realmente cansada... – eu respondi, e logo em seguida ouvi uma voz feminina falando muitas coisas que eu mal pude compreender, pois eu estava desligada da realidade.
Minha mãe abanou as mãos em frente meus olhos, tirando-me do meu transe. Ela fez sinal com a cabeça para eu segui-la, e eu logo levantei e fiz o que ela mandou. A vida não ia ser a mesma daqui pra frente, e eu ia ter que me acostumar.
CAPÍTULO 3
- Nossa, onde você conseguiu essa casa mãe? – eu perguntei observando cada detalhe da casa.
Era uma casa muito bonita, não muito grande, mas também não muito pequena. E a casa já estava com móveis, o que eu mais estranhei.
- Era de uma tia sua. Quando disse que viríamos para Londres, ela logo sugeriu que ficássemos aqui. Ela disse que tinha comprado um apartamento e que nós poderíamos ficar com a casa – ela falou colocando as malas no chão e indo em direção ao sofá.
Eu continuava a observar a minha volta, e depois parei meu olhar sob minha mãe.
- E eu? Vou estudar aonde? O que eu vou fazer nesse tédio de cidade, onde eu não conheço ninguém? Que saco – eu disse bufando, e me joguei em uma poltrona ao lado do sofá.
- Você tá de férias , suas aulas começam daqui a algumas semanas e eu já providenciei seu colégio. Quanto a esse tédio de cidade, vai dar uma volta e vê se encontra alguém pra fazer amizade – minha mãe disse e piscou pra mim.
Mas eu ainda não entendia como ela achava tudo tão fácil.
- Ah claro, vou parar o primeiro estranho que eu ver e falar: "Oi, quer ser meu amigo?". Ah mãe, por favor, né? E onde é meu quarto, onde eu vou passar minhas lindas noites? – eu falei em um tom de ironia.
- Sobe as escadas e vira à direita. Bom, eu vou sair pra comprar algumas coisas pra nós comermos. Se você resolver sair, deixa um bilhete na geladeira – ela disse se levantando do sofá e batendo a porta.
Peguei minha mala e subi as escadas, com um pouco de dificuldade por causa do peso, e quando virei à direita vi um pequeno, bem pequeno, corredor com uma porta. Aproximei-me e girei a maçaneta, abrindo lentamente a porta. Entrei no quarto e coloquei minha mala no chão, e em seguida me joguei na cama.
Tentei pensar em algo para fazer, mas nada me veio à cabeça. Levantei-me e segui em direção a janela, debrucei-me ali e fiquei observando a vista. Abaixei até minha mala e peguei meu Ipod, voltei para a cama e me deitei, colocando os fones nos ouvidos. Fiquei ali por um bom tempo; pensava em como ia ser chato sem as minhas melhores amigas.
- , CHEGUEI! – minha mãe gritou do andar debaixo.
Eu não respondi, apenas me levantei da cama, tirei os fones do ouvido e deixei o Ipod sobre uma escrivaninha que se encontrava em frente à cama. Saí do quarto e desci as escadas, seguindo em direção a cozinha.
- O que você trouxe? – eu perguntei, fuçando algumas sacolas de supermercado que se encontravam em cima da mesa.
- Hambúrguer – ela disse sorrindo e eu pulei em cima dela.
- AAAH HAMBÚRGUER, EU TE AMO MÃE!!! – eu falei enchendo ela de beijinhos.
Eu amo hambúrguer, e minha mãe sabia disso. Provavelmente tinha comprado pra me deixar animada, já que nada podia estar pior...
- É eu sei , foi por isso que eu comprei. Vamos logo, arrume a mesa enquanto eu preparo as coisas – ela falou e eu apenas concordei com a cabeça. Talvez estivesse começando a ficar bom.
CAPÍTULO 4
Passou-se algum tempo e as aulas iriam começar. Eu já tinha feito uma amiga, a Beth, ela morava na rua de cima e sempre que podia vinha me ver. Acabamos nos tornando amigas, e sempre saíamos juntas. Beth estudava no colégio que minha mãe me colocara, e foi bom pra mim, pois assim não ficaria tão perdida.
- Tchau mãe, eu vou com a Beth pra escola – eu disse pra minha mãe, dei um beijo na bochecha dela e bati a porta atrás de mim.
Quando virei dei de cara com uma Beth sorridente, me esperando na calçada.
- Bom dia ! Pronta pro seu primeiro dia de aula? – ela perguntou sorrindo e eu dei um suspiro, balançando a cabeça positivamente.
- Acho que estou sim. É só uma escola, não pode ser tão ruim – eu disse enquanto caminhávamos lentamente até o colégio.
Chegando lá Beth me levou até minha sala, e depois de dizer algumas coisas, seguiu para a sua. Eu entrei e me acomodei em uma das carteiras no canto da sala. Todos me olhavam percebendo que eu era aluna nova, e faziam comentários. Eu fingia que não estava vendo todas aquelas pessoas falando de mim, e lia uma revista qualquer. Segundos depois uma moça, não muito velha, mas nem muito nova, entrou na sala. Ela usava um vestido longo e um sapato engraçado, com um avental branco de professor por cima do vestido, e tinha seus cabelos presos por um coque frouxo.
- Bom dia alunos - ela disse séria, se dirigindo a mesa.
Colocou alguns livros sobre a mesa e em seguida olhou ao seu redor, reparando a minha presença na sala.
– Seu nome? – ela perguntou tentando ser simpática, mas mesmo assim ainda parecia estranha.
Eu sorri pelo canto dos lábios.
- É – respondi, também tentando parecer simpática.
- Seja bem-vinda . Eu sou Geórgia, professora de matemática – ela se apresentou, pegou um giz e se virou para a lousa.
Ela começou a explicar algumas coisas e eu não estava prestando atenção em nada, olhava para um ponto fixo no chão, mas depois de Geórgia tirar-me do meu transe, passei a tentar prestar atenção na aula.
- E aí, tá gostando? – Beth perguntou, olhando em nossa volta.
Pra falar a verdade, eu estava odiando aquela escola, aquele lugar. Não tinha nada de interessante e as pessoas não eram nada simpáticas.
- Ah, claro, to sim – menti. – Muito legal aqui... – falei observando cada pessoa que passava.
- Você se acostuma. É sempre assim quando entramos em colégios novos! – ela disse tentando me animar, pelo jeito tinha percebido minha cara de quem estava odiando tudo aquilo.
- Claro, vou me acostumar – eu disse forçando um sorriso.
Ficamos sentadas em um banco no pátio e depois que o sinal do intervalo bateu, voltamos as nossas salas. Depois de muitas aulas chatas, finalmente tocou o sinal; e eu apenas observava, ainda sentada em minha mesa, o aglomerado de pessoas na porta, desesperadas para saírem dali. Eu esperei todos saírem para depois sair. Peguei minha mochila e segui até a porta, e quando cheguei ao fim do corredor avistei Beth me esperando.
- Oi mãe – falei e em seguida dei um beijo em sua testa.
- Oi meu amor, como foi o primeiro dia de aula? – ela me perguntou enquanto colocava algumas pipocas na boca.
- Preciso dizer que foi um saco? – eu respondi me jogando na poltrona ao lado do sofá em que minha mãe permanecia deitada com um saco de pipoca nas mãos.
- Ai, ai, , deixa de ser implicante – ela disse revirando os olhos.
Eu sorri fraco pegando minha bolsa do chão e subindo as escadas. Quando entrei no quarto tirei minhas roupas e fui em direção ao banheiro, tranquei a porta e liguei o chuveiro deixando que a água quente caísse sobre meu corpo. Eu precisava de algo que me relaxasse, ou ia pirar de vez.
CAPÍTULO 5
Fazia oito meses que estávamos em Londres. Tudo tinha melhorado bastante, eu acabei me acostumando com o local e já tinha algumas amigas, assim como minha mãe tinha as suas. Eu me formei no oitavo ano e logo começariam as aulas novamente, faltava uma semana para que o tormento voltasse.
Minha mãe estava bem melhor, parecia outra pessoa. Nunca mais tinha tocado no nome de Stiven, parecia até ter esquecido que ele existia. Bom, esse era o motivo para estarmos em Londres.
Meu irmão Brian, que estava morando com nossa avó desde a morte do nosso pai, resolveu voltar a morar conosco, tinha chegado no começo das férias de final de ano. As coisas estavam melhores com Brian por perto, minha mãe sempre sentira falta dele. Ele era dois anos mais velho que eu, tinha 16 anos.
Era uma tarde de domingo quando eu e Beth passeávamos com Budie, meu labrador que ganhei de presente há alguns meses atrás de minha mãe.
- Deixe-me levá-lo, ! – Beth corria atrás de mim enquanto eu fugia dela, correndo com o Budie.
- Vem logo Beth, você corre muito devagar! – eu disse com a respiração falha de tanto correr, e quando olhei pra trás vi Beth parada com as mãos na cintura e com cara de indignada com o que eu acabara de dizer.
Eu gargalhava e corria; quando cheguei na porta de casa ouvi minha mãe me chamar, acenei pra Beth e corri pros fundos, levando Budie comigo.
- Você me chamou mãe? – eu falei apoiando minhas mãos nos joelhos, cansada de tanto correr.
- Sim . Amanhã começam suas aulas, e eu já lavei o seu uniforme, toma – ela estendeu a mão me entregando o uniforme. Eu fiz uma cara de 'Ai que chato' e estendi a mão, pegando a roupa.
Eu estava deitada em minha cama assistindo televisão, quando ouvi a campainha tocar. Desliguei a TV curiosa pra saber quem era, e desci as escadas. Eu fiquei paralisada, não conseguia me mover e tudo passava na minha frente em câmera lenta. Sim, Stiven estava ali, abraçando minha mãe, e ela correspondendo ao seu abraço. Aquele cara me irritava de uma forma que nem eu entendia, só sei que me irritava. Eu me aproximei deles com uma expressão de muita raiva no rosto.
- O que esse cara tá fazendo aqui, hein mãe? – eu perguntei, ignorando-o e olhando fixamente nos olhos de minha mãe.
- E-eu não sei exatamente filha, s-só sei que e-ele está arrependido do que fez e a-acho que devo dar uma chance a ele. Certo? – minha mãe me olhava parecendo suplicar pra eu concordar, mas ela sabia que eu odiava aquele idiota.
- Claro mãe, certíssima você. O CARA SAI COM UMA VADIA QUALQUER PRO MOTEL E VOCÊ QUER DAR UMA CHANCE PRA ELE? VOCÊ ME FAZ DEIXAR MINHAS MELHORES AMIGAS PRA TRÁS E VIR MORAR EM LONDRES PRA MELHORAR A SUA VIDA, PRA VOCÊ ESQUECER ESSE CARA, E AGORA VOCÊ DIZ QUE VAI DAR UMA CHANCE? ERA SÓ O QUE FALTAVA MESMO! – eu saí correndo e subi as escadas, vi que minha mãe me seguiu, mas me tranquei no quarto rapidamente.
- ABRE ESSA MERDA DESSA PORTA ! EU ESTOU MANDANDO! – minha mãe gritava do outro lado, mas eu não ia abrir.
Eu me joguei na cama e chorei, chorei muito. Queria descontar todo o ódio que estava sentindo em minhas lágrimas. Ela insistiu um pouco e depois parou, e eu pude escutar ela descer as escadas. Eu não queria acreditar que aquilo era realidade, pra mim eu estava sonhando. Levantei rapidamente da cama, tirei minha roupa e entrei no banheiro do meu quarto para tomar um banho. Saí do banheiro e olhei no relógio, que marcavam 11 horas. Deitei em minha cama e pude ouvir meu irmão e minha mãe discutindo. Fechei os olhos tentando não prestar atenção no barulho que vinha do andar debaixo, e logo adormeci.
CAPÍTULO 6
Acordei com o meu celular tocando, abri os olhos lentamente e peguei o celular. Quando olhei a chamada perdida, estava marcando o número de Beth. Espreguicei-me e levantei devagar, quando olhei para o relógio dei um pulo da cama. Eram 7 horas da manhã, e eu tinha que encontrar Beth exatamente às sete. Coloquei meu uniforme rapidamente, calcei meu All Star, peguei minha mochila e desci as escadas correndo. E pra começar o meu dia, dei de cara com Stiven dormindo no sofá, e algumas latas de cerveja espalhadas pelo tapete da sala. Continuei andando, e quando cheguei perto da porta, olhei pra ele com uma cara de raiva, mas como ele estava dormindo e não iria poder adivinhar o que eu estava pensando, abri a porta saindo de casa.
- Nossa , você tá bem? – Beth olhou com uma cara de espanto pra mim, percebendo minha expressão de raiva.
- Não Beth, eu to péssima! O Stiven voltou Beth! Dá pra acreditar? Me fala, DÁ PRA ACREDITAR??? – eu dei um berro no meio da rua, mas Beth logo tapou minha boca com sua mão.
- Calma , são sete horas da manhã, tá todo mundo dormindo! – ela falou, tentando me acalmar. – É, eu realmente não to acreditando... Quando isso? – Beth me olhou com um cara de interrogação. Eu bufei, tentando me controlar.
- Ontem. Ontem de noite. Ai Beth, eu to com tanta raiva. Não quero voltar pra casa hoje. Não quero dar de cara com aquele filho da... – antes que eu pudesse terminar a frase Beth parou na minha frente e me segurou pelos ombros.
- , calma. Bota na sua cabeça que é a vida da sua mãe, e ela sabe o que é melhor pra ela. Tudo bem que você odeia o cara, mas poxa, você prefere ver sua mãe sofrer ou feliz? Se for esse babaca que você tanto fala, que vai fazê-la feliz, tenta entender amiga – ela sorriu e me abraçou. Eu retribuí o abraço, e depois que ela me soltou continuei andando pelas ruas encarando meus pés.
Um silêncio se instalou entre nós. Quando chegamos ao colégio, Beth foi pra sua sala e eu pra minha. Nada poderia ficar pior naquele dia.
- ! – ouvi uma voz masculina me chamando. Quando me virei para ver quem era, vi olhando pra mim de braços abertos.
- !!! – corri em direção a ele, que me puxou para um abraço.
era um grande amigo meu, que eu tinha conhecido no colégio. Ele tem uma banda, mas eu nunca cheguei a ouvi-lo tocar e nem conhecer seus colegas.
- E aí mocinha, como você tá? – ele falou batendo em minhas costas.
- Eu to bem , e você? Tava com saudades! – eu fiz cara de criança e ele riu.
- Eu também tava, você nem pra ir me ver nas férias, né? – ele fez bico e eu dei risada, apertando as bochechas dele.
- Se eu soubesse onde você mora, né? Você nunca me disse – eu abri um sorriso e ele corou rapidamente.
- Erm, é verdade. Mas e aí, o que você fez de bom nessas... – antes que pudesse terminar, o professor entrou na sala. resmungou algo como: 'Depois a gente conversa' se virando e indo em direção a sua mesa.
Eu estava sentada em uma mesa qualquer do pátio do colégio com e Beth, nós conversávamos sobre besteiras, e comíamos a comida que a cantina servia. De repente eu me lembrei de tudo que acontecera no dia anterior na minha casa, e passei a olhar para um ponto fixo no chão. Senti minhas bochechas queimarem e comecei a ficar com raiva, só de lembrar do canalha que agora ia se aproveitar da boa vontade da minha mãe.
- ? – abanou as mãos em frente aos meus olhos fazendo-me acordar do transe.
- Eu vou ao banheiro – falei seca e levantei, seguindo para uma porta onde se lia 'Toalete'.
Entrei no banheiro e vi o local vazio, o que era raro. Aproximei-me da pia e apoiei minhas mãos no mármore gelado, onde tinham poças de água. Encarei-me no espelho e senti lágrimas correrem pelo meu rosto, fazendo-me ficar rapidamente vermelha. Abri a torneira da pia e enchi minhas mãos de água, jogando por todo meu rosto. De repente escutei vozes se aproximarem e entrei rapidamente em um banheiro, não queria que ninguém me visse nesse estado.
- Juro que não acredito Mel, como ela é burra! Caiu feito uma besta! – falava uma voz fina do outro lado, dando muitas gargalhadas.
- Essas meninas são bem ingênuas mesmo, fala sério! – outra voz que me parecia familiar falava também gargalhando.
Era a voz de Mel, a garota mais popular da escola. Ela era linda, tinha longos cabelos castanhos e olhos também castanhos. Estava sempre com roupas super lindas, e chamava a atenção de todos na escola. Eu nunca tinha falado com ela, mas ela sempre sorria pra mim quando eu passava perto dela.
Resolvi sair do banheiro quando senti meu rosto ficar mais leve. Quando saí e vi Mel e sua amiga, que eu não sabia o nome, sorri fraco e segui para a pia lavando minhas mãos. Percebi que elas se entreolhavam e soltavam risos baixos, como se comentassem alguma coisa. Quando eu estava saindo, sua amiga me olhou da cabeça aos pés.
- Bela calça – ela disse e as duas começaram a gargalhar.
Eu passei fingindo não me importar com o que ela dissera, mas, definitivamente, não teve como. Senti meu rosto novamente queimar de raiva, e segui firme pra mesa.
- O que aconteceu agora ? – Beth perguntou quando eu sentei na mesa bufando.
- Mel e suas amiguinhas, sempre tirando uma com a cara dos outros. E dessa vez, a vítima foi a palhaça aqui – eu falei com um tom de quem realmente estava num dia péssimo, e joguei meu rosto sobre o ombro de .
- Calma pequena, elas fazem isso com todos. Você não é a primeira, e nem a última! – ele disse tentando me animar e Beth concordou com a cabeça.
O sinal tocou e nós levantamos, Beth seguiu pro corredor de sua sala e eu e seguimos para o nosso.
CAPÍTULO 7
Saí do colégio em passos apertados, não estava a fim de ir embora com Beth, então pedi pro falar pra ela que eu tinha algo pra fazer e não pude esperá-la hoje. Eu queria um tempo sozinha pra pensar, nem para casa estava querendo ir. Cheguei numa praça, me sentei em um banco, levei minhas pernas até meu peito e cruzei os braços apoiando a cabeça em meus joelhos. Comecei a me balançar pra frente e pra trás. Veio-me a cabeça o que a amiga de Mel tinha dito pra mim no banheiro hoje. Fiquei um tempo encarando o nada e depois me levantei do banco, seguindo o caminho de casa.
- Mãe, eu quero comprar roupas – falei secamente entrando em casa e vendo minha mãe assistindo televisão no sofá.
Parei em frente à porta fechada atrás de mim e fiquei encarando-a, esperando uma resposta.
- É claro minha filha. Agora mesmo? – ela disse sorrindo, como se não importasse pra ela a cara feia que eu a encarava.
- É, agora, já. Vamos mãe – me virei abrindo a porta e esperando minha mãe que pegava sua bolsa e seus óculos escuros e depois saía pela porta.
Clara era a mulher mais linda que eu já tinha visto com aquela idade, não querendo me gabar porque ela era minha mãe, mas ela era realmente linda. Tinha cabelos longos e cacheados, de tom castanho claro. Tinha olhos verdes assim como eu, e todos sempre diziam que nós éramos irmãs. Ela tinha 37 anos, mas tinha uma aparência de 25, por isso sempre que nos viam juntas, perguntavam se éramos irmãs. Minha mãe, Clara, sempre fora minha melhor amiga, eu sempre contava tudo pra ela, e ela me entendia perfeitamente. E eu odiava ter que tratá-la daquele jeito, mas não tinha outra escolha.
- Aonde vamos ? – ela perguntou sem tirar os olhos cobertos por seus óculos escuros da estrada a sua frente.
- Em qualquer loja onde tenham roupas de boa qualidade – eu disse friamente. Incomodava-me falar daquele jeito frio com minha mãe.
- Tudo bem, eu sei um lugar! – ela se virou sorrindo e eu forcei um sorriso no canto da boca.
Depois de alguns minutos, paramos em frente uma loja de roupas. Entramos e minha mãe resmungou alguma coisa como 'lanchonete' e 'já volto' se virando de costas para mim e andando.
- Moça, quanto custa essa aqui? – perguntei para uma vendedora da loja mostrando a blusa que estava em minhas mãos.
Era uma blusa vermelha com detalhes pretos brilhantes, de ombros caídos.
- 38 libras mocinha! – ela disse sorrindo.
Eu apenas balancei a cabeça confirmando e retribui o sorriso da mulher, e saí andando observando outras roupas.
- Já escolheu as roupas ? – minha mãe apareceu do meu lado, pegando algumas blusas de uns cabides e observando-as.
- Já, estão aqui dentro desta sacola que a moça me deu – eu disse tentando não ser muito fria, embora ainda estivesse com raiva.
- Ok! Então vamos pagar? – minha mãe perguntou e eu balancei a cabeça confirmando, e seguindo-a.
Chegamos em casa e ela foi direto para a cozinha.
- Vou fazer algo para nós comermos - ela disse, enquanto eu subia as escadas e resmungava um "Ok" pra ela.
Subi pro quarto com muitas sacolas nas mãos, tinha comprado no mínimo umas 20 blusas e umas 8 calças. Joguei as sacolas todas pelo chão do quarto, sentei e comecei a tirar as roupas das sacolas. Novamente me veio à cabeça o que a amiga da Mel tinha me dito, e eu comecei a experimentar as roupas, decidindo o que vestiria amanhã na escola.
CAPÍTULO 8
- Nossa , você tá linda! – segurou minha mão e levantou meu braço, fazendo-me dar uma volta e rir. Senti minhas bochechas corarem.
- Obrigada , só queria mudar um pouco – sorri pelo canto dos lábios e ele balançou a cabeça.
- Mudar pra que? Você é linda de qualquer jeito! – ele falou me fazendo corar de novo.
- Ah pára , daqui a pouco eu fico roxa de vergonha! – eu disse e ele riu.
Antes que pudéssemos falar outra coisa, a professora entrou na sala, mandando todos irem pros seus lugares. se levantou da minha mesa, onde estava sentado, e seguiu para sua cadeira. E mais uma aula chata começava...
Estávamos novamente na mesma mesa de ontem, rindo de alguma besteira que Beth contava. Eu me levantei dizendo que ia pegar algo para comer, os vi concordando com a cabeça e voltei minha atenção aos meus pés. Quando olhei pra frente vi Mel me encarando, e eu parei de andar. Ela sorriu sincera pra mim e observou desde os meus cabelos que estavam soltos com uma faixa preta brilhante, até o meu All Star vermelho. Eu estava vestindo aquela blusa vermelha de ombros caídos e detalhes pretos brilhantes que eu tinha comprado, com uma calça jeans escura com alguns detalhes.
- Gostei da sua roupa – ela falou ainda sorrindo sincera.
- E eu nem preciso dizer que gostei da sua, né? – nós duas rimos, e de repente ela tirou um papel do bolso e estendeu a mão.
- Toma. Me liga hoje pra gente sair – ela disse ainda com a mão estendida.
Eu peguei o papel, olhei rapidamente e coloquei no bolso de minha calça jeans, balançando a cabeça positivamente.
- Claro, ligo sim – eu disse com um pequeno sorriso nos lábios.
Ela sorriu e saiu andando. Eu fiz o mesmo, só que fui em direção contrária.
Eu e Beth caminhávamos silenciosamente para casa, e eu percebi que desde o intervalo Beth estava com uma expressão de raiva no rosto. Eu resolvi quebrar aquele silêncio que estava me irritando.
- Aconteceu alguma coisa Beth? – perguntei ainda encarando meus pés.
Senti que ela me encarava, mas não olhei para ela.
- Não, não aconteceu nada comigo não. Mas com você acho que sim, né? – ela respondeu séria e desviou o seu olhar, que estava fixado em mim, olhando agora pro chão e chutando pedrinhas.
- Comigo? Mas como comigo? Não tá acontecendo nada comigo! – eu falei sem entender.
- , o que te deu pra conversar com a Mel? A menina ri da sua cara e no dia seguinte você fala com ela como se ela fosse normal... – ela fez aspas com as mãos enquanto falava a palavra normal.
A Mel podia ser linda e tudo mais, mas ela não tinha uma fama muito boa na escola.
- Ah Beth, ela que veio falar comigo. E eu respondi ué! Ia ficar quieta? – falei e senti que minhas bochechas coraram.
Era realmente estranho. Eu, , conversando com a Mel?
- Tá, se é assim. Mas cuidado , essa menina não presta – ela disse em um tom de alerta. Eu apenas concordei com a cabeça e o silêncio novamente tomou conta de nós.
Cheguei em casa e corri pro meu quarto; minha mãe tinha dito alguma coisa que eu nem prestara atenção, e continuei correndo até abrir a porta e pegar meu celular em cima do criado-mudo ao lado da cama. Retirei do bolso o papel que Mel tinha entregado para mim com seu telefone. Encarei o papel e comecei a discar seu número. Ninguém atendia. "Droga" pensei. Tente mais duas vezes e nada. Joguei o celular na cama e desci as escadas correndo, seguindo em direção a cozinha. Quando entrei vi meu irmão e seu amigo Jack. Cara, ele era tudo de bom. Sorri pra ele que retribuiu, e Brian estava concentrado em acender seu cigarro. Caminhei até a varanda dos fundos e vi o maço de cigarros da minha mãe com seu isqueiro em cima. Olhei e vi que ela não estava ali. Aproximei minha mão lentamente do maço. Tirei um cigarro de dentro da caixinha, e acendi. Depois de uns minutos que eu estava ali pela primeira vez experimentando um cigarro, ouvi a voz de minha mãe. Apaguei rapidamente o cigarro jogando-o no chão e pisando em cima.
- Mãe eu vou sair, não sei que horas eu volto – eu falei entrando de volta na cozinha e vendo minha mãe lavando a louça acumulada na pia.
- Tá bom , mas não demore muito e apareça pro jantar – ela disse sorrindo sem tirar os olhos da louça.
CAPÍTULO 9
Eu peguei um ônibus e resolvi ir dar uma volta. Quando ele parou em um ponto eu desci, mesmo sem saber exatamente onde eu estava. Caminhei por um tempo até passar por uma loja e ver que Mel estava lá dentro. Eu abri um sorriso no canto dos lábios e sem pensar duas vezes, entrei na loja.
- Ei Mel – falei sorrindo fraco, e ela olhou pra mim com um sorriso mais fraco ainda, e voltou sua atenção pras coisas da loja.
Era uma loja que tinha roupas perfeitas, porém caras demais. Ela estava com aquela amiga do dia do banheiro, que por sinal se chamava Adelaide.
- Vocês vão comprar alguma coisa aqui? Porque essa loja é caríssima e... – antes que eu pudesse terminar fui interrompida por Mel.
- Shhh! – ela disse tapando minha boca e riu baixinho.
Eu fiz cara de quem não estava entendendo nada. Mel olhou a sua volta, e quando viu que as vendedoras se distraíam conversando ou ao telefone, ela colocou uma blusa dentro de sua bolsa. Olhou pra mim com um sorriso malicioso e saiu andando, pegando várias coisas e colocando na bolsa. Ela parecia se divertir com Adelaide, mas eu estava confusa vendo tudo aquilo.
- Eu... Vou tomar... Um ar – falei me afastando delas.
As amigas se entreolharam e deram risadinhas, e voltaram a fazer o que faziam antes.
Eu sentei em um banco e respirei fundo. O que tinha me dado? Por qual motivo eu estava indo atrás de Mel? Eu realmente não entendia tudo aquilo, mas eu parecia querer cada vez mais continuar seguindo-a. Eu estava perdida em meus pensamentos quando uma mulher com várias sacolas e uma bolsa se aproximou do banco onde eu estava e se sentou. Ela jogou todas as sacolas no banco, e falava no telefone com muita atenção procurando alguma coisa em alguma de suas sacolas. Quando ela se virou de costas achando o que queria na sacola e gritando com a pessoa do outro lado da linha, eu encarei a mulher voltando meu olhar para sua bolsa. Puxei levemente a bolsa para perto de mim, no meio de tantas sacolas, e abri-a lentamente. Retirei uma carteira que havia dentro da bolsa, coloquei debaixo da minha blusa e saí andando para que ela não percebesse.
- Meninas! – falei entrando na loja. – Olhem só o que acabei de pegar de uma mulher – eu continuei falando e retirei a carteira debaixo da blusa.
Mel puxou a carteira de minhas mãos e a abriu.
- Meu... Deus! – foi a única palavra que saiu da boca de nós três ao ver o tanto de dinheiro que tinha dentro daquela carteira.
- Vamos às compras? – eu disse sorrindo e elas balançaram a cabeça sorrindo também.
Nós três demos gritinhos de felicidade e saímos pegando tudo que víamos pela frente.
- Nós vamos levar isso, isso, isso e mais isso! – eu dizia colocando várias roupas e sapatos em cima do balcão da loja.
Depois de um tempo que estávamos na loja comprando várias coisas, nós saímos de lá com muitas sacolas. Mel olhou pra mim com um sorriso no rosto, e parou de andar, fazendo com que eu fizesse o mesmo.
- Foi muito bom hoje. Vamos repetir amanhã? – ela disse ainda sorrindo e segurou em meu ombro.
Eu sorri sincera e balancei a cabeça concordando, ela beijou minha bochecha e saiu correndo, entrando em um carro com Adelaide. Eu fiquei parada por alguns instantes ao ver o carro sumindo. Continuei a caminhar e tomei um ônibus para casa. Eu realmente estava adorando aquilo tudo.
- Mãe, eu cheguei! – eu disse entrando e batendo a porta com força.
Fui até a cozinha e vi que minha mãe preparava alguma coisa muito boa pelo cheiro; cheguei perto dela e a abracei.
- O que você está fazendo de bom, hein dona Clara? – olhei sorrindo pra ela. Aquela raiva toda que eu sentia parecia ter sumido.
- É um jantar especial meu amor. Muito especial – ela sorriu, mas eu não gostei do que ouvi.
- E pra quem é tudo isso? Vai me dizer que... – antes que pudesse terminar, a campainha tocou.
- Eu atendo! – minha mãe falou enxugando suas mãos em um pano de prato e seguindo até a porta da sala.
Eu a segui e quando ela abriu a porta, adivinha quem eu vejo. É, Stiven. Só podia ser ele mesmo, pra ela estar fazendo jantarzinho especial.
- Era mesmo o que eu esperava – eu disse olhando para os dois e subi as escadas para o meu quarto.
Joguei-me na cama e nem preciso dizer como meu dia tinha acabado. Adormeci de tanto chorar. Aquilo estava acabando comigo.
CAPÍTULO 10
O sinal do intervalo tocou e eu saí andando apressada, esbarrando em todos. Eu estava com tanta raiva que nem enxergava pra onde ia. Essa manhã eu tive que tomar café com a presença do adorado Stiven, mais motivos pra acabar com meu dia. tinha faltado na escola e Beth ainda estava estranha comigo. Já não bastasse minha mãe, agora a Beth? Continuei andando, e logo avistei Mel se aproximar de mim com um sorriso no rosto.
- ! – ela disse me abraçando. – Tudo bem? – ela perguntou se soltando do abraço.
- Tudo sim Mel, e você? – sorri sincera. A Mel parecia ser a única que conseguia me deixar feliz.
- To bem. E aí, vamos fazer o que depois da escola? – ela falou e eu olhei pra ela com cara de espanto.
Mel, perguntando pra mim, o que íamos fazer depois da escola?
- Erm, não sei Mel – sorri fraco, mas continuei. – Posso pedir pra que minha mãe nos leve a algum lugar.
- Vamos fazer compras ? - ela olhou pra mim e sorriu.
Eu ainda não estava entendendo o porquê dela estar pedindo pra mim e não pras suas amiguinhas. Mas eu tentei espantar meus pensamentos.
- Claro, vamos siiim! – eu falei animada e ela riu. – Me espera no portão depois da aula – eu disse e ela concordou.
- Vem , vamos pegar algo pra comer – ela me puxou e eu a segui.
Ainda estava achando aquilo estranho.
O sinal tocou e eu saí apertando cada vez mais os passos. Quando cheguei ao portão do colégio avistei Mel, que encarava o nada. Ela estava com óculos escuros, uma blusinha de couro com a barriga a mostra, uma calça jeans e um cinto preto brilhante. Usava um All Star e mascava chiclete.
- Cheguei, desculpa a demora – falei sorrindo e ela retribuiu o sorriso.
Ela me puxou pelo braço e nós fomos caminhando até o carro da minha mãe. Eu tinha ligado pra ela em uma aula vaga e pedido pra ela nos levar para fazer compras.
- Mãe, essa é a Mel. Mel, essa é Clara, minha mãe – eu falei apresentando as duas.
- Nossa Clara, como você é linda! E se parece muito com a – Mel falava olhando de Clara para mim, com um sorriso nos lábios.
- Ah, obrigada querida. Você que é linda! Agora vamos meninas, vou levar vocês para onde querem – minha mãe disse entrando no carro, Mel olhou pra mim sorrindo e entrou também, e logo eu entrei atrás dela.
Nós compramos algumas coisas e depois minha mãe nos deixou em uma lanchonete. Nós tomamos um sorvete e Mel disse que queria que eu conhecesse um lugar. Ela me levou até um prédio. Era um dos prédios mais lindos que eu já tinha visto.
- Vem , eu já vou te explicar aonde a gente tá indo – ela me puxou sorrindo e depois deu uma risadinha.
Mel tinha um sorriso lindo. E ela sabia como usá-lo.
- , aqui é o prédio onde mora o Mark, meu ficante. Ele tem um amigo muito gatinho que vive aqui no apartamento dele! – ela piscou pra mim e começou a rir.
Eu ri junto com ela enquanto saíamos do elevador, e seguíamos a uma porta branca e grande. Ela tocou a campainha e depois de alguns segundos um garoto abriu a porta. Acho que quando eu olhei pra ele, babei mais do que quando eu dormia. Ele era lindo, tinha olhos azuis hipnotizantes, uma franja caída em seu rosto com traços perfeitos, e tinha um corpo lindo, já que quando abriu a porta estava só de calça, sem sua camisa.
- Oi Mel, entra. O Mark tava esperando você – ele sorriu fraco pra ela e em seguida olhou pra mim, que não tirava os olhos dele.
- Você é a...? – ele perguntou sorrindo e na hora eu balancei a cabeça como se tivesse acabado de sair de um transe.
- , m-muito p-prazer – eu disse gaguejando um pouco.
Ele riu e abriu passagem para que eu entrasse, já que Mel já estava lá dentro a algum tempo. Eu entrei sem tirar os olhos dele, que também correspondia ao meu olhar.
- , e o prazer é todo meu – ele piscou e sorriu.
Eu dei uma risadinha, e depois de desviar meu olhar dele, observei o apartamento. Era lindo, tinha paredes pintadas de um verde claro, em tom bebê, com móveis modernos e aparentemente caros.
- Você mora aqui? – eu perguntei ainda observando o apartamento.
- Não, eu sou só amigo do Mark. Eu venho muito aqui, mas não moro aqui não – ele sorriu e eu retribuí. - E você, onde mora? – ele perguntou parecendo interessado.
Eu encarei seus olhos por alguns instantes e me veio Mel na cabeça, e por um momento me perguntei onde ela estava. Voltei meus pensamentos ao e respondi sua pergunta.
- Moro a alguns minutos daqui. Não é longe na verdade – falei me sentando no sofá, e ele se levantou.
- Vou pegar algo pra você beber. Cerveja? Suco? Refrigerante? – ele perguntou e eu sorri.
- Cerveja – respondi meio pensativa.
Ele concordou com a cabeça e seguiu para um corredor onde dava para a cozinha. Era a primeira vez que eu ia beber cerveja na vida, pois não tinha costume de beber. Algum tempinho depois vi voltando com duas latas de cerveja nas mãos, e sorrindo pra mim.
- Cadê a Mel, hein? – eu perguntei com cara de dúvida.
colocou as latinhas em cima de uma mesinha que se encontrava no centro da sala, e se sentou no sofá ao meu lado.
- Deve estar no quarto com o Mark. Esses dois são foda – ele disse rindo e eu também dei risada.
- E você, também namora? – ele perguntou e eu neguei.
- Espera, a Mel namora esse tal de Mark? – perguntei me lembrando que ela tinha me dito que era seu ficante.
- Acho que não. Eu não entendo a Mel, sempre a vejo com muitos garotos... – ele falou pegando as latinhas em cima da mesa, me entregando uma e abrindo a que permaneceu em suas mãos. – A Mel não é tão boa companhia assim. Eu nunca te vi andando com ela... Vocês estão mais amigas agora, né? – ele falou tomando um gole de sua cerveja e eu olhei pra ele sem entender.
- Como assim? Como você sabe que eu não andava com a Mel e... Que agora estamos amigas? – perguntei levantando a sobrancelha.
Ele olhou pra mim e começou a rir. E eu continuava sem entender muito bem.
- Não acredito que você tá perguntando isso ! Você nunca me viu no colégio não é? – quando ele acabou a frase eu paralisei. , aquele menino perfeito era do colégio e eu não sabia? – ? Você tá bem? – ele dizia passando as mãos a alguns centímetros de meu rosto, que permanecia com meu olhar fixado em algum ponto do apartamento.
- Não , na verdade eu não imaginava que você estudava lá – forcei um sorriso e ele deu risada.
- Ah, que pena. Mas pelo menos agora você sabe! – ele falou e nós rimos.
Mel apareceu na sala com os cabelos bagunçados e a boca vermelha. E acho que sem ela perceber, esqueceu de fechar seu cinto, que estava aberto.
- Vamos ? – ela falou arrumando os cabelos e andando em direção a mim e .
- Claro, vamos logo antes que minha mãe me mate! – eu falei e ela olhou pra mim com uma expressão estranha. – Que foi Mel? – perguntei fazendo a mesma cara que ela fez.
- Quem disse que nós vamos pra casa? – ela me puxou pelo braço e saiu correndo em direção à porta. Deu um grito dizendo "Tchau meninos!" e bateu a porta sem ao menos eu dizer o mesmo.
CAPÍTULO 11
- Vamos logo , a tia Clara deve estar preocupada com você! E quem sabe comigo, né? – a Mel dizia com uma voz estranha, cambaleava pra todos os lados e ria muito, parecia estar fora de si.
Eu não estava diferente, cambaleava junto com ela, pois estávamos de braços dados, e ríamos feito duas loucas. Caímos sobre a grama e começamos a rir sem parar. Mel tinha me levado para a casa de um colega dela, que deu para nós alguma bebida praticamente com alguma droga, dando esse efeito em nós. Depois nós fomos para um campo enorme onde ficamos sentadas. Fumamos, bebemos, e ficamos ali sem ver o tempo passar. Já eram 11 horas e eu nem tinha me tocado, já que não sabia nem quem eu era.
- ! – escutei alguém me chamando. Não sabia se eu realmente ouvira alguém me chamar, ou se estava tendo alucinações. – , a mamãe está preocupadíssima com você. Levanta agora dessa porra dessa grama e vamos embora! – meu irmão dizia em um tom sério, me puxando para que eu levantasse.
Eu acabei me levantando pelo puxão que ele me deu em um impulso, mas quando levantei me soltei do braço dele.
- Saaai garotooo! Você nã-ão manda em miiim, tá? - eu falava soluçando e rindo ao mesmo tempo, e Mel ria junto comigo, só que estirada no chão.
- Vamos pra casa , já tá na hora mesmo! Deixa que seu irmã-ãozinho lindo le-eva a gente! – a Mel falava soluçando também, e meu irmão já estava perdendo a paciência com nós duas.
- VAMOS LOGO , A MAMÃE MANDOU VOCÊ VOLTAR PRA CASA AGORA! – ele disse nervoso e me puxou pelo braço, eu dava altas gargalhadas e puxava Mel comigo, que gargalhava também.
Brian nos levou para casa. Mel iria dormir lá hoje, então eu falei pra minha mãe que iria passar a tarde com a Mel, e que depois voltávamos para casa. Só que nem minha mãe, e nem eu, imaginávamos que eu e Mel iríamos chegar praticamente meia noite em casa.
- Onde você estava ? – escutava minha mãe dizer em um tom elevado de voz, mas eu ainda permanecia rindo muito, e com muita dor na cabeça.
Olhei pra ela e fui andando em sua direção, cambaleando um pouco.
- Não é da sua conta mamãe! – eu falei baixo, chegando perto dela e abaixando meu corpo até ficar com o rosto perto do dela.
- Deixa a menina, Clara. Ela só quer se divertir um pouco – Stiven disse dando um grande gole em sua vodka, e minha mãe me afastou de seu corpo e se levantou do sofá.
- Se divertir? E chegar em casa meia noite e nesse estado? Isso é diversão, Stiven? – ela dizia preocupada.
Eu e Mel segurávamos o riso e seguíamos em direção ao quarto. Brian assistia a cena e balançava a cabeça, vendo o exemplo de família que ele tinha.
- , nunca mais faça isso. Está me ouvindo? – minha mãe falou abrindo a porta de meu quarto.
Eu estava terminando de tirar meu sutiã quando joguei minha blusa sobre ela.
- Sai daqui! Você não sabe que tem que bater na porta antes de entrar? – eu disse séria. O efeito da droga parecia ter diminuído, e eu já estava voltando ao normal. Minha mãe me olhava assustada parecendo não me reconhecer.
- Por quê? Não posso mais ver o corpo da minha própria filha? – ela disse em um tom de voz um pouco calmo.
Eu olhei pra ela e dei risada, seguindo em sua direção.
- É mãe, tá bom, agora vai lá com seu namoradinho idiota e deixa a gente em paz tá? Tchau! – bati a porta na cara da minha mãe e me virei pra Mel que estava deitada em minha cama.
- Não precisava ter sido tão grosa, né ? – ela disse e começou a rir, eu olhei pra ela rindo.
- Ah Mel, às vezes minha mãe me irrita! – eu disse me deitando ao lado dela. Puxei o edredom para cobrir nossos corpos e dei um beijo em sua bochecha.
- Boa noite Mel! – sorri e ela retribuiu o sorriso.
- Boa noite – ela respondeu e se virou, e eu fiz o mesmo.
Eu ainda estava meio zonza e com muita dor de cabeça, mas fechei os olhos e tentei dormir, para ver se aquilo passava.
CAPÍTULO 12
Abri os olhos lentamente. Olhei para o lado e vi que Mel dormia feito uma pedra. Virei para o outro lado e fiquei encarando a parede branca a minha frente. Pouca coisa eu conseguia me lembrar da noite passada, mas com um pouco de esforço eu ia lembrando-me de tudo. Mas eu não queria lembrar, e ficar naquela cama não estava ajudando em nada. Levantei devagar para não acordar Mel, e entrei no banheiro. Apoiei minhas mãos sobre o mármore da pia e me encarei no espelho. Meu rosto estava inchado, eu estava com olheiras e minha boca estava roxa. Abri a torneira e comecei a jogar água em meu rosto, e deixei que as gotas escorressem por todo ele.
- ? – escutei alguém me chamando.
Olhei pro lado e vi Mel se espreguiçando e vindo em minha direção com um pequeno sorriso nos lábios.
- Bom dia, dorminhoca – falei rindo e ela me deu um soquinho no ombro.
- Nem vem , você também acabou de acordar. Eu não tava dormindo feito uma pedra como você pensou – ela olhou fixo em meus olhos e voltou sua atenção ao vaso sanitário, enquanto levantava a tampa e abaixava seu short e calcinha.
- Erm, ok Mel. Eu vou para a cozinha ver se tem algo para nós comermos – bati a porta do banheiro e segui até a cozinha.
Encontrei minha mãe fazendo algumas panquecas, e quando ela me viu encostada no vão da porta deu um sorriso fraco pra mim.
- Bom dia querida. Dormiu bem? – ela perguntou sem tirar os olhos das panquecas.
- Dormi sim mãe – eu falei me dirigindo à mesa, e sentando na cadeira que se encontrava lá.
- Bom dia Clara! – Mel apareceu na cozinha abraçando minha mãe e beijando sua bochecha. Depois olhou sorrindo pra mim e sentou do meu lado.
- Dormiu bem Mel? – minha mãe perguntou pra ela com um sorriso no rosto.
- Dormi muito bem Clara – ela respondeu normalmente.
Um silêncio preencheu a cozinha, e eu já estava ficando irritada.
- Vou me trocar e depois volto para comer – eu falei me levantando da cadeira, mas fui impedida por Mel.
- Espera, eu vou com você! – ela disse puxando meu braço, e entrelaçando ao dela.
Seguimos pro quarto e depois de alguns minutos estávamos trocadas para o colégio. Nós comemos, e o silêncio permanecia na cozinha... Eu sentia minha mãe me encarando às vezes, mas não retribuía seus olhares. Depois de minutos Mel e eu já estávamos a caminho do colégio. Beth não estava me esperando como de costume. Nós não nos falávamos desde o dia em que tivemos a conversa sobre Mel. Eu não senti falta de sua presença. Eu me sentia bem ao lado de Mel, e esquecia de tudo, até que Stiven existia.
- Mel! – Mel e eu viramos a cabeça para ver quem chamava.
Era seu ficante ou namorado, Mark. E ao lado dele se encontrava . Seguimos até eles, Mel se soltou de meu braço em que o dela se encontrava entrelaçado, e correu pulando no colo de Mark. Eu continuei andando até me aproximar deles. Olhava fixo para e ele retribuía meu olhar, com um sorriso no canto dos lábios.
- Bom dia – eu disse dando um beijo em sua bochecha logo em seguida.
- Bom dia ! – ele disse simpático.
Eu sorri e voltei minha atenção pra Mel, tentando dizer a ela para entrarmos, mas ela parecia não me ouvir. Senti um braço me puxando de leve, e quando me virei vi que era .
- Deixa ela, você acha que ela vai te ouvir estando com o Mark? - ele perguntou e olhou para os dois.
- E por que não ouviria? – perguntei.
Ele sorriu de novo e voltou sua atenção para Mark e Mel.
- Porque quando ela tá com ele, ela parece não escutar nada além de Mark – ele falou voltando seu olhar pra mim, que o observava com certa atenção no que ele dizia.
- Entendi. Então parece que só restou você pra entrar no colégio comigo! – eu disse entrelaçando o braço dele no meu e puxando-o para que entrássemos no colégio. Ele riu e depois caminhou até o corredor onde ficava minha sala. – Sua sala é nesse corredor também? – perguntei simpática. Ele olhou pra mim com cara de espanto.
- Se eu não estivesse no terceiro colegial, com certeza seria! – nós rimos, e depois que as risadas foram se amenizando ele se despediu e foi para sua sala.
Eu entrei, e me sentei em uma carteira no fundo da sala. Percebi que tinha faltado de novo. Encarei meus pés e depois debrucei sobre a mesa, pegando no sono.
CAPÍTULO 13
- Istso vaig doesr? – eu tentava falar, enquanto um cara grandão e estranho segurava minha língua.
- Relaxa , é só um furinho – Mel sorria pra mim, apoiada sobre seu cotovelo, com cara de criança.
Nós resolvemos cabular aula no intervalo e saímos do colégio sem que percebessem, e ela me levou para fazer um piercing. Eu estava com um pouco de medo, mas já tinha decidido há alguns dias atrás que iria fazer.
- Abre a boca garota, ou eu não consigo furar – o cara disse com cara de tédio.
Eu abri mais a boca e soltei um resmungo depois que ele finalmente furou.
- Doeu ? – Mel me perguntava enquanto eu olhava minha língua inchada no espelho que tirei da minha bolsa.
- Só um pouco. Tá inchada Mel! – eu falei um pouco assustada.
Ela começou a rir e balançou a cabeça.
- Você queria que estivesse normal depois de furá-la? – ela disse ainda rindo.
Nós tínhamos voltado pro portão da escola um pouco antes de bater o sinal, para caso minha mãe fosse nos buscar, não percebesse. Quando finalmente o sinal tocou, Mel foi esperar por Mark perto de um muro, e eu fiquei esperando ela se amassar com ele para nós irmos embora.
- ? – me chamou fazendo com que eu saísse de um transe.
- Oi – sorri levemente. – O que foi?
- Erm, não sei... É... Você... Não quer ir... Até o apê do Mark, pra nós tomarmos cerveja e sei lá... Jogar vídeo game ou... Alguma coisa assim? – ele falava nervosamente e coçava a nuca.
Eu abri um sorriso sincero e balancei a cabeça concordando.
- Claro , eu adoraria! Vou falar com a Mel. Espera aí – ele balançou a cabeça concordando e eu segui até ela.
- Mel, nós podemos ir pro apartamento do Mark? O me chamou pra passar a tarde lá e eu não pude recusar – ela sorriu maliciosa confirmando com a cabeça, e entrelaçou seu braço no meu, puxando Mark que conversava com uns garotos.
Eu puxei pela mão e nós fomos andando até o apartamento do Mark. Fomos o caminho todo rindo das besteiras que e Mark diziam, até que parou em frente a um mercado.
- Vão indo, eu vou comprar algumas porcarias aqui e daqui a pouco eu apareço lá – nós concordamos e continuamos andando.
Depois de alguns minutos estávamos no apartamento, menos . Logo que entramos Mark e Mel foram pro quarto, me deixando na sala assistindo TV e esperando por . Mel resmungou algo como "Não entra aqui", batendo a porta do quarto, e eu balancei a cabeça.
- Chegueeei! - abriu a porta com umas três sacolas nas mãos, colocou-as em cima da mesa de jantar e tirou algumas latas de cerveja e chocolates de dentro.
Eu dei risada, ele se aproximou e sentou ao meu lado no sofá, me entregando uma lata de cerveja.
- Nem preciso dizer que os dois estão no quarto, né? – eu falei tomando um gole da cerveja.
riu e balançou a cabeça, fazendo o mesmo com a cerveja.
- Esses dois não têm juízo. Principalmente a Mel! – ele disse e eu fiquei quieta. Senti que ele ficou sem graça.
- Por que ? Por que você insiste em falar assim da Mel? - eu olhei pra ele com cara de dúvida.
Ele ficou quieto por um tempo, e depois me encarou.
- Porque eu conheço a Mel, , e conheço muito – ele colocou sua lata de cerveja em cima da mesinha de centro, e voltou sua atenção a mim. – Eu a conheci em um barzinho; eu estava bêbado e ela também, mas ela parecia totalmente consciente. A gente acabou ficando e ela me levou pra casa da tia dela. A tia dela trabalha de noite, então não tinha problemas em relação à casa, e nós fomos pra lá. A gente acabou transando naquela noite, e eu me arrependi muito depois de saber quem a Mel era de verdade – ele parou de falar e eu estava totalmente concentrada no que ele falava, encarando seus olhos azuis hipnotizantes.
- E quem ela é de verdade? – tentei parecer normal.
- , a Mel é uma vadia. Ela não presta. Se você continuar andando com ela, ela vai acabar te levando pro mesmo caminho – ele falou, mas eu não prestava atenção no que ele dizia. Eu estava hipnotizada por seu olhar, que parecia tão sincero enquanto ele falava. – ? Você tá me escutando? – ele perguntou e eu de repente desviei meu olhar e tomei um longo gole da minha cerveja.
- Sim, claro que estou. Agora vamos mudar de assunto. Ou melhor, fazer alguma coisa – eu sorri e ele retribuiu, indo em direção ao vídeo game, e depois me entregando um dos controles.
CAPÍTULO 14
Já era noite. Mark e Mel ainda estavam trancados no quarto, só saíam de lá às vezes para pegar algo pra beber e voltavam a se trancar. Eu e jogávamos vídeo game, e bebíamos cerveja. Depois que dei o último gole lá pra décima lata, eu me espalhei pelo sofá, fazendo rir.
- Tá cansada? – ele perguntou ainda rindo.
Eu neguei com a cabeça. Ele desligou o vídeo game e se espalhou no sofá ao meu lado. Nós começamos a rir e quando as risadas foram diminuindo, ele ficou me encarando por um tempo. Sempre que ele me olhava, eu parecia ficar hipnotizada por aqueles olhos azuis que tinham aquele efeito sobre mim. Ele se aproximou de mim lentamente, e colocou suas mãos em minha cintura. Quando ele tocou minha pele senti um frio percorrer meu corpo e eu fiquei toda arrepiada. Ele percebeu minha reação e riu baixo. Eu senti minhas bochechas queimarem de tão vermelhas, mas ainda o encarava nos olhos. Ele me puxou pra mais perto, fazendo-me sentir sua respiração quente sobre meu rosto. Ele subiu uma de suas mãos que estava em minha cintura para meu rosto, e acariciou minha bochecha com o polegar, fazendo com que eu fechasse meus olhos. Senti ele se aproximar de mim, até nossos lábios se tocarem. Ele passou sua língua pelos meus lábios que se renderam abrindo-se. Ele me beijava lentamente, mantinha uma mão em minha cintura e a outra percorria meu corpo. Eu correspondia ao beijo segurando em sua nuca, bagunçando seus cabelos. O beijo ia ganhando cada vez mais intensidade. me deitou no sofá lentamente, ficando em cima de mim, sem cortar o beijo. Ele passava suas mãos pelo meu corpo, e ia levantando minha blusa. Fez com que eu sentasse no sofá e cortou o beijo puxando minha blusa, e depois retirando a dele. Ele desabotoou meu sutiã encarando meus olhos, e quando tirou por completo e jogou o mesmo no chão, voltou a me beijar, mas agora com mais força. Eu sentia pressionando suas mãos em minha cintura fortemente, me fazendo soltar gemidos abafados. Ele foi beijando meu pescoço até minha barriga, passando as pontas dos dedos pela barra da minha calcinha. Olhou pra mim e sorriu, e eu retribuí.
- A gente vai ficar aqui mesmo? – falei olhando para a porta de um quarto, que se encontrava vazio. Ele olhou pra mim e depois encarou o quarto.
- Claro, como eu sou bobo. Vem, vamos – ele pegou minha mão e nós caminhamos até o quarto.
Chegando lá eu me sentei na cama e esperei por que trancava a porta. Ele se virou pra mim e sorriu caminhando até a cama, deitando por cima de mim novamente. Nos beijávamos e logo repetiu a última cena no sofá, parando com o rosto sobre minha calcinha. Tirou-a devagar, tirando sua boxer em seguida. Voltou a deitar sobre mim, e me beijou com uma certa intensidade.
Acordei com meu celular tocando, e corri pra atender.
- Alô? – disse com uma voz meio sonolenta.
- ? Onde você está? – minha mãe dizia do outro lado da linha preocupada.
- Calma mãe, não fica preocupada. Eu to na casa da... Da amiga da Mel. Nós vamos passar a noite aqui e amanhã voltamos pra casa, tá? – eu disse calma tentando acalmar minha mãe.
- Tudo bem, mas da próxima vez liga e avisa, ok? Beijos – ela desligou o telefone e eu voltei pra cama.
Quando olhei no relógio percebi que eram onze horas da noite. Observei que parecia dormir, e sorri comigo mesma ao ver que ele ficava lindo até dormindo. Segui até a cama e me deitei ao lado dele, puxando um pouco da coberta para cobrir nossos corpos. Eu não estava arrependida de ter transado com e de minha virgindade ter ido por água abaixo, porque eu me sentia muito atraída por ele. Mas sabia que tinha a desculpa de que estava bêbada caso acontecesse alguma coisa. Eu encarava o teto e muitas coisas passavam pela minha cabeça. Desde o dia em que conheci Mel, até alguns minutos atrás onde eu tava com um garoto que eu não conheço muito bem o deixando fazer tudo que quisesse comigo. Ouvi umas batidas fortes na porta.
- , sai desse quarto, vem aqui – a Mel falava com uma voz estranha, ela parecia estar dopada.
Eu me levantei da cama, segui até a porta e destranquei, girando a maçaneta.
- O que houve Mel? – perguntei com cara de dúvida ao ver Mel em uma péssima aparência. Descabelada, de sutiã e com um short curtinho, e com uma cara de quem tinha bebido todas.
- Nada, va-amos embora, já tá tarde e a Clara deve estar preo-ocupada com a ge-ente – ela soluçava enquanto falava, e cambaleava um pouco.
Quando ela terminou de falar se jogou em meus braços, fazendo com que eu a segurasse.
- Calma Mel, minha mãe não tá preocupada. Ela ligou e eu disse que nós íamos passar a noite na casa de uma amiga sua – eu falava enquanto levava Mel para o sofá. Sentei-a e encarei seus olhos. – Tá tudo bem Mel? – eu perguntei e ela balançou a cabeça negativamente.
- Eu preciso dormir, eu preciso... Eu... Preciso... De um banho, me dá banho ? Por favor, me dá um banho – ela falava com uma voz sonolenta, e ela estava realmente em um estado muito estranho.
Eu levantei Mel do sofá e fui seguindo até o banheiro. Vi que estava parado no vão da passagem do corredor, observando toda a cena. Eu olhei pra ele forçando um sorriso, e voltei a andar em direção ao banheiro.
- Me ajuda , eu estou muito tonta, tá tudo girando – ela dizia fechando e abrindo os olhos lentamente, como se fosse desmaiar.
Eu tirei o sutiã dela e depois abaixei o short junto com a calcinha. Amarrei seus cabelos em um rabo frouxo e liguei o chuveiro, levando-a pra dentro do Box. Dei um banho nela, acho que no estado em que ela estava não sabia nem quem ela era. Depois de alguns minutos levei-a para o quarto e coloquei uma camisa do Mark e uma bermuda dele nela, e deitei-a na cama dele.
- Cadê o Mark, Mel? Você tá se sentindo melhor? – eu perguntei preocupada e ela balançou a cabeça positivamente, de olhos fechados.
- Volta pra lá , o deve estar preocupado. Ele viu, não viu? – ela abriu os olhos e mordeu o lábio inferior. Eu olhei fixo em seus olhos.
- Ok, eu vou voltar. Agora dorme, e amanhã eu venho te acordar pra nós irmos pra aula – eu falei seguindo até a porta.
- - escutei ela falar baixinho. Virei pra ela que permanecia de olhos fechados.
- Eu vou ficar bem, não se preocupe. Eu te amo – ela disse e se virou de lado, cobrindo o corpo com a coberta.
- Também te amo Mel - eu falei e saí do quarto, fechando a porta devagar.
Eu não entendia por que Mark não estava lá, mas tentei não pensar em nada. Voltei pro quarto e me deitei ao lado de , que parecia ter voltado a dormir.
CAPÍTULO 15
No dia seguinte eu acordei Mel cedo, e nós voltamos pra minha casa. Eu tava começando a estranhar o fato de sua mãe ou seu pai não ligar pra ela. Na verdade ela nunca tinha comentado comigo sobre sua família. Eu só sabia de sua tia, que tinha me dito na noite passada. Nós andávamos a caminho de casa de braços entrelaçados e em silêncio. Mel parecia ter melhorado, não muito, mas aparentava estar um pouco melhor.
- Você dormiu bem Mel? – eu perguntei ainda encarando o chão.
- Sim , eu já estou melhor – ela disse forçando um sorriso.
Nós ficamos em silêncio por um tempo, e depois eu resolvi quebrá-lo.
- Mel, posso te fazer uma pergunta? – eu falei agora deixando de encarar o chão e olhando pra ela. Ela voltou o olhar pra mim e balançou a cabeça positivamente, com um sorriso de dúvida nos lábios. – Seus pais não se preocupam com você? Porque... Eu nunca os vi ligando pra você, e você tá sempre comigo e... – antes que eu pudesse terminar ela me interrompeu.
- Eu não tenho pais . Na verdade, é uma longa história – ela deu um suspiro e continuou a falar. – Só posso te dizer que minha mãe é uma prostituta e eu não a via desde meus 8 anos, quando ela resolveu me abandonar com minha tia, por causa da morte de meu pai. Faz um tempo que eu não vejo minha mãe, . A última vez que a vi, ela estava com um cara. E... Eu não gosto dele . Eu o odeio – ela falou com uma voz falha e eu percebi lágrimas percorrendo seu rosto.
- Calma Mel, não precisa chorar. Por que você o odeia? – eu perguntei e ela enxugou as lágrimas com as costas das mãos, depois parou de andar, me levando perto de uma parede.
- Olha isso – ela falou levantando a blusa e virando-se de costas. Eu pude ver uma enorme cicatriz em suas costas. Na verdade eu tinha reparado na noite passada quando dei banho nela, mas não fiz nenhum comentário. – Ele me batia. Ele e minha mãe iam direto na casa da minha tia, e quando minha mãe saía com ela, ele ficava sozinho comigo. E uma vez ele me bateu tanto que deixou essa cicatriz horrível em minhas costas – ela falou voltando a andar e me puxando pelo braço. – Desde que ele fez isso, eu nunca mais dormi na casa da minha tia. Eu costumo dormir na casa da Adelaide, mas agora na sua casa – ela disse com um sorriso sincero nos lábios. – . Eu... Posso... Ficar com você por um tempo? É só por um tempo, eu prometo! – ela falou e na hora eu fiquei sem reação.
Apenas balancei a cabeça concordando e recebendo um abraço apertado de Mel em seguida. Caminhamos em silêncio até a minha casa, e chegando lá encontramos minha mãe, o Brian, e o Stiven comendo. A raiva que eu sentia sempre que o via, voltou. Quando apareci na cozinha e deparei com Stiven, saí correndo pro meu quarto.
Aquela casa estava uma loucura. Primeiro meu irmão, que voltou a morar com a gente. Depois o idiota do maridinho da minha mãe, que resolveu procurá-la de novo. E agora Mel, talvez, fosse ficar lá por um tempo. Bom, com Mel eu não me importava, afinal ela era minha amiga. Mas a presença de Stiven fazia com que eu quisesse pular nele e socá-lo. Eu realmente não entendia o que se passava dentro de mim, mas eu tinha vontades estranhas. Como se quisesse descontar toda aquela raiva em alguma coisa.
- Ah , não começa. Vamos comer e depois ir pro colégio, vai logo – Mel falava enquanto entrava no quarto e se jogava na cama ao meu lado.
Ela me abraçou e sorriu pra mim, beijando minha bochecha em seguida e me puxando pra levantar. Eu apenas dei risada e continuei sendo puxada por ela. Nós fomos até a cozinha e pra minha sorte, o idiota não estava mais lá. Eu me sentei ao lado de Mel na mesa, e nós comemos em silêncio. Minha mãe também não estava mais lá, na verdade eu não sabia onde ela estava. Eu nem estava me importando mais com ela.
- , calma! – Mel me puxou pelo braço quando eu ameacei entrar no colégio. Ela me levou para um canto, onde estavam e Mark. – Prontos meninos? – Mel perguntou olhando de Mark para , que apenas riram balançando a cabeça. Eu estava sem entender, ela não tinha me dito nada.
- Mel, o que tá acontecendo? Eu... Não to entendendo – eu falei com cara de dúvida.
Mel olhou pra mim rindo e me abraçou por trás, apoiando seu queixo em meu ombro como se fosse falar algo em meu ouvido.
- Nós vamos nos divertir um pouco , só isso – ela sussurrou em meu ouvido, e soltou seus braços que estavam em volta de meu corpo.
Eu fiquei com cara de desentendida, e ela piscou pra mim e saiu na frente com o Mark.
- Relaxa , a Mel é doida assim mesmo – falou rindo, e eu, ainda sem entender nada, ri junto. – Vem, vamos – ele me puxou pela mão e nós seguimos Mel e Mark.
- Será que você pode me explicar pra onde a gente tá indo ? – eu perguntei olhando para os seus lindos olhos azuis.
- Não sei, a gente tá seguindo eles! Mas não deve ser pra muito longe. É a primeira vez que você cabula aula? – ele perguntou sorrindo e eu neguei.
- Na verdade não – sorri fraco e continuei andando, e percebi que nós permanecíamos de mãos dadas. Eu me sentia bem quando estava com Mel e principalmente com . Parecia esquecer tudo em minha volta.
CAPÍTULO 16
- Meeel, tá tudo rodandoo! – eu falava enquanto girava de braços abertos olhando pra cima.
Mel estava deitada no chão tomando uma garrafa de vodka, que já tinha menos da metade. Ela se levantou e seguiu em minha direção, cambaleando. Puxou minhas mãos e começamos a girar, e acabamos caindo no chão dando muita risada.
- , cadê os meninos? Aaai cara, eu não agüento mais esse lugar – ela falou e voltou a se jogar no chão, de barriga pra baixo.
Mel estava completamente bêbada, e eu não estava nada diferente. Nós estávamos no mesmo campo enorme de alguns dias atrás, junto com e Mark.
- Ali Mel, olha eles aliii – eu falava apontando pra eles e dando pulinhos. Saí correndo em direção aos garotos. – Vamos embora daqui. Eu e a Mel queremos ir... Vamos, vaaamos, por favor! – eu falava e ria ao mesmo tempo. Minha cabeça doía e tudo girava, não demorou muito pra que eu me jogasse no chão. – Aaai, tá tudo girando. Minha cabeça tá doendo. O que você deu pra gente, hein Mark? – eu perguntava ainda rindo bastante. Mark apenas balançou a cabeça e riu, mas me olhava assustado.
- Erm, eu... Acho que vou embora. Tchau pra vocês – falou e saiu andando em direção a calçada, mas ele se virou de volta. – , você tá bem? Quer vir comigo? – ele falou com uma expressão preocupada. Mas eu não dei muita atenção, eu estava completamente fora de mim.
Eu olhei pra ele, como se não enxergasse direito quem era e comecei a rir, balançando a cabeça negativamente. Ele se virou de novo e colocou as mãos nos bolsos, seguindo novamente para a calçada. estava normal, não tinha tomado nada mais do que algumas latas de cerveja. E Mark também estava bem. Já eu e Mel estávamos horríveis, mas eu nem podia perceber, já que parecia estar em outra dimensão.
- Tchau Mark, a gente vai embora! E você NÃO vai seguir a gente, panaca! – Mel falou arrancando um beijo dos lábios do menino, me fazendo rir.
Em seguida ela me puxou e nós fomos andando em alguma direção, cambaleando e rindo sem parar.
- Vai logo , eu quero tomar banho, porraaa! – Mel falava dando fortes murros na porta do banheiro, e rindo feito idiota.
O efeito tinha passado um pouco, mas nós ainda estávamos meio tontas e às vezes ríamos sozinhas.
- Cala a boca sua idiota, eu já to acabando! Deve ser a décima vez que você bate nessa porra dessa porta! – eu falei gritando e ela parou de bater.
Eu terminei de tomar banho e me enrolei na toalha, abri a porta e encontrei Mel do lado de fora sentada no chão. Ela se levantou e entrou no banheiro, enquanto eu seguia pro quarto. Depois de alguns minutos Mel já tinha voltado, e nós estávamos no quarto, deitadas na cama.
- Você vai falar com ela, né ? – ela perguntou me encarando nos olhos, virada de lado para mim.
- Vou. Vou agora. Espera aqui. E depois de um tempo aparece no quarto dela – eu falei me levantando da cama.
Segui até o quarto da minha mãe e abri a porta, encontrei-a fumando. Eu odiava ver minha mãe fumando.
- O que você quer querida? – ela perguntou guardando seu maço dentro de uma gaveta, no criado-mudo ao lado da cama.
- Por que você não pára com isso, hein? Já não basta eu ter que agüentar aquele idiota aqui dentro, e agora você fumando de novo mãe? Que merda! – eu falei em um tom de voz elevado, e minha mãe me olhava com espanto. – Eu quero que a Mel fique aqui. Por um tempo, não sei quanto tempo. Mas eu quero! – eu falei encarando-a séria.
- Como assim ? Ela não pode ficar aqui! Essa casa já está ficando uma loucura! – ela falava, mas eu não a deixei continuar.
- Mãe deixe-a ficar aqui! Você tem seu maridinho medíocre e eu tenho minha amiga! Ela vai ficar mãe, ela vai ficar! – eu disse abrindo a porta do quarto pronta pra sair correndo, mas dei de cara com Mel. – Você vai ficar Mel! – eu falei olhando pra ela e saí do quarto. Mel correu em direção a minha mãe e abraçou-a.
- Obrigada Clara! Muito obrigada! – ela dizia apertando minha mãe, que não teve reação alguma. Ela não entendia o porquê de eu ter mudado daquele jeito. Eu estava estranha com ela, e ela percebera.
- Não foi nada Mel. Mas você vai ter que ir embora uma hora – minha mãe disse sorrindo fraco pra ela, que concordou com a cabeça.
- Eu te amo Clara! – Mel falou beijando a bochecha de minha mãe e saindo do quarto, deixando-a novamente sem reação. Minha mãe não entendia mais nada, pensava que estava ficando louca.
CAPÍTULO 17
- Cuidado Mel, toma cuidado! – eu falava enquanto Mel pegava uma agulha de dentro de uma bolsa.
Eu estava deitada na cama; ela sentou um pouco abaixo de minha barriga e olhou fixo em meus olhos.
- Posso? – ela continuava olhando em meus olhos. Eu balancei a cabeça positivamente, mordendo um urso qualquer que estava em cima da cama.
- Aaai! – eu tentei gritar com o urso ainda na boca.
- Ai droga! Espera aqui. Não se mexe – Mel falou saindo do quarto. Ela seguiu até o banheiro e pegou um pouco de papel higiênico.
- O que aconteceu Mel? – minha mãe apareceu no corredor, vendo Mel com alguns pedaços de papel higiênico nas mãos.
- Nada Clara, a gente só derrubou coca cola! – ela saiu correndo e minha mãe franziu a testa, mas logo voltou pro seu quarto. – Toma, coloca isso aí ! – ela me entregou os pedaços do papel e fez sinal para que eu colocasse no umbigo.
É, ela tinha furado meu umbigo. Só que o furo saiu um pouco mais pra baixo, fazendo sangrar.
Já era noite, Mel e eu estávamos deitadas. Minha mãe entrou no quarto, e se aproximou da cama.
- Boa noite meu amor – ela tentou me dar um beijo, mas eu não deixei. Eu estava com muita raiva dela.
- Boa noite Clara! – Mel puxou minha mãe e deu um beijo em sua bochecha.
Eu fiquei um pouco enciumada ao ver a cena, mas logo voltei minha atenção a parede a minha frente. Logo minha mãe saiu do quarto. Nós ouvimos um barulho na janela, e Mel se levantou rapidamente.
- É o Mark – ela falou, trocando de roupa.
- Aonde você vai? – eu perguntei levantando a sobrancelha.
- Eu vou a um lugar onde você não pode ir – ela sorriu sincera pra mim, enquanto abaixava o top que ela usava, fazendo-o de saia.
- Não to entendendo Mel! Olha que horas são e... – ela colocou a mão em minha boca, me impedindo de terminar a frase. Beijou minha bochecha e acenou com a mão, seguindo até a janela. Ela abriu a mesma devagar, e ao ver Mark do lado de fora, pulou a janela fechando-a e acenando novamente pra mim.
Eu não entendia as reações de Mel. Ela conseguia me deixar com raiva e ao mesmo tempo, me fazendo gostar cada vez mais de tê-la como amiga. Eu não agüentava mais aquilo. Eu estava provavelmente pirando de tanto ódio. Ódio do Stiven, ódio de minha mãe que estava fumando, ódio de Mel que me deixara sozinha pra sair com Mark. Eu tava com ódio de tudo, inclusive da minha vida.
Eu me tranquei no banheiro e comecei a chorar. Debrucei-me sobre o vaso sanitário e chorei por alguns minutos. Depois levantei e abri a porta de um armário que ficava do lado da pia do banheiro. Peguei uma lâmina que tinha lá dentro e sentei no chão, encostada na parede. Eu ainda sentia algumas gotas quentes de lágrimas saírem pelos meus olhos. Aproximei a lâmina de meu pulso, e comecei a cortá-lo. Eu soltava gemidos baixos de dor enquanto sentia cada vez mais lágrimas escorrerem por meus olhos. Eu precisava descontar aquele ódio em alguma coisa. Voltei pro quarto em silêncio pra que ninguém me ouvisse, deitei em minha cama e continuei a chorar. Fechei os olhos e tentei dormir.
CAPÍTULO 18
Na manhã seguinte eu acordei e vi que Mel não estava na cama. "Droga, o que eu vou falar pra minha mãe?" pensei. Olhei para o meu pulso e vi que minha blusa estava manchada de sangue. Fui ao banheiro, escovei os dentes, e depois voltei para o quarto pra me trocar. Minutos depois segui pra cozinha, e pra minha surpresa Mel estava sentada ao lado de minha mãe, assim como Brian e Stiven.
- Bom dia ! – Mel disse acenando com a mão, sorrindo sincera. Eu sorri fraco e encostei-me no mármore da pia da cozinha.
- Você não vai comer querida? – minha mãe perguntou e eu neguei. Encarava o chão, pensativa. Minha mãe se aproximou de mim e me puxou até a lavanderia, perto da varanda. – O que você tem ? Por que está agindo dessa forma?
- Me solta mãe! – eu puxei o braço que ela segurava. – Não to agindo de forma nenhuma, você que tá pirando – eu falei e voltei pra cozinha. – Vamos logo Mel! – falei pra ela, que se levantou da cadeira. Seguimos até a porta da sala e saímos, a caminho do colégio.
- Toma – Mel estendeu a mão me oferecendo um cigarro. Eu peguei, ela acendeu pra mim e continuamos andando.
- O que a gente vai fazer hoje? É sexta-feira ! A gente precisa sair! – ela falava animada.
- Não sei Mel, pensa em alguma coisa e depois você me fala – eu sorri e ela balançou a cabeça.
Chegando à escola, nós paramos perto da cantina do pátio. Eu, Mel e Adelaide comentávamos das pessoas que passavam, e ríamos baixinho.
- Ei meninas! - um garoto moreno se aproximou de nós.
- Oi Victor! – Mel disse se aproximando dele, e cumprimentando-o. Ele me cumprimentou e Adelaide também, e chamou Mel em um canto.
- , vem cá! – eu olhei pra trás e paralisei. Dei de cara com um garoto moreno de olhos verdes, ele era extremamente lindo. Segui em direção a ele sorrindo meio boba, e ele encarava meus olhos. – Você... Vai sair hoje? – ele perguntou sorrindo, e eu neguei. – Bom, então se você quiser, a gente pode sair. Me passa seu telefone, e eu te ligo – eu sorri sincera e tirei papel e caneta da bolsa, escrevi o meu celular e entreguei pra ele.
- É... Me liga... Quando... Você quiser! – eu falei e abanei a mão no ar, dando tchau e me afastando dele.
- NÃO ACREDITO QUE VOCÊ VAI SAIR COM O LÉO, ! – Mel gritava e pulou em cima de mim, me fazendo cair no chão.
Eu comecei a rir das caras que ela fazia de quem ainda não acreditava. Mas o que tinha de tão interessante naquele menino? Tudo bem que ele era lindo, mas ela estava animada demais.
- Calma Mel, ele ficou de me ligar! Não tá nada combinado ainda – eu disse rindo.
- Mas , e o Doguie? – ela perguntou e eu olhei rapidamente pra ela.
Eu não estava com ele, a gente tinha se pegado algumas vezes, mas nunca assumimos nada além de pegação.
- Ele é só um passatempo Mel! – eu disse e nós começamos a rir.
Eu não estava sendo sincera. Eu gostava muito de , podia até dizer que o amava. Mas não queria demonstrar nada sem ter certeza de que ele sentia o mesmo por mim.
- Quer saber, esquece ele. Você vai sair com o Léo, e ele é mil vezes mais gostoso que o ! – ela disse e eu forcei uma risada. Eu não achava isso, mas tive que disfarçar.
A campainha tocou, e eu fui atender. Minha mãe tinha saído com meu irmão, e eu estava em casa sozinha com a Mel.
- !!! - falei com voz de criança ao ver na porta e puxei-o para um abraço. Ele ria da minha voz. – O que aconteceu com você? Tem faltado na escola por quê? – eu perguntei curiosa e ele fez cara de triste.
- Eu estava doente , nada demais. Eu vim te pedir a matéria que eu perdi, será que você pode me emprestar? – ele sorriu no canto dos lábios e eu fiquei sem reação. Como eu ia emprestar meus cadernos pra ele, se eu cabulei aula e quando ia pra escola, copiava meia lousa? – Pode ou não ? – ele perguntou fazendo-me sair de um transe.
- Eu não copiei a lição esses últimos dias – eu não podia mentir para , ele era meu melhor amigo. Ele olhou pra mim franzindo a testa.
- Você não copiou a lição ? Nossa, vai chover! – ele fez piada e eu dei um soco de leve no braço dele, rindo junto. – Ok, então vou passar na Beth – ele me deu um beijo na bochecha e saiu andando.
- Quem era ? – Mel perguntou quando eu entrei no quarto.
- Era o , meu amigo. Ele queria a lição dos últimos dias porque ele faltou. Mas eu não tenho! – eu falei e nós rimos. Na verdade aquilo não tinha nem um pouco de graça, eu podia repetir o primeiro ano de colegial. – Vem Mel, vamos sair. Não agüento mais esse lugar – eu disse seguindo em direção a porta dos fundos. Passei por Budie e brinquei um pouco com ele, e depois de uns minutos eu e Mel estávamos caminhando sem rumo. Bom, pelo menos eu achei que fosse sem rumo...
- Vem – ela me puxou indo em direção à porta de uma casa. Ela tocou a campainha e uma moça loira, com uma aparência meio velha, atendeu. – Tiiia! Que saudades! – Mel falou abraçando sua tia, que dizia também estar com saudades. Ela me cumprimentou e pediu para que entrássemos.
- Sua tia tem uma casa linda Mel! – eu disse observando o quarto que era de Mel, quando ela ainda morava lá. – E seu quarto é perfeito também!
- Ah , isso não importa. Vamos pegar umas roupas aqui e vazar – Mel falou indo em direção ao seu armário, e depois de abrir a porta, começou a jogar um monte de roupas pelo chão. Uma mais linda que a outra.
Meu celular começou a tocar, mas não identificava o número.
- Alô? – falei esperando uma resposta.
- ? É o Léo – ele falou e eu sorri pra mim mesma.
- Aaah. OI LÉO! – falei alto pra que Mel se tocasse, e ela virou rapidamente e se jogou ao meu lado, tirando o celular de minhas mãos.
Depois de alguns minutos ela desligou, e me encarou séria.
- Você vai sair com ele hoje ! – ela disse mudando totalmente sua expressão séria para uma sorridente, e pulando em cima de mim. – Nós vamos à casa dele, e o Mark vai estar lá! – ela falou sorrindo e depois recolheu algumas roupas do chão com a minha ajuda. Juntamos todas e colocamos em umas sacolas. Algumas horas depois, estávamos prontas para ir pra casa do Léo.
CAPÍTULO 19
Acordei na manhã seguinte olhando em minha volta, percebendo que não estava em meu quarto. Quando virei vi que Léo estava deitado do meu lado, sem camisa e coberto do abdome pra baixo. Levantei as cobertas observando meu corpo, que estava nu. Deduzi que eu tinha transado com Léo noite passada, mas não conseguia me lembrar de nada. Minha cabeça doía um pouco, e sentia parte do meu corpo adormecido. Levantei recolhendo minhas roupas espalhadas pelo quarto, colocando-as de volta em meu corpo. Segui até o banheiro e joguei uma água no rosto, tentando melhorar minha aparência. Ao passar na sala vi Mel e Mark dormindo, mas fui rapidamente acordar Mel. Ela resmungou alguma coisa e abriu os olhos lentamente, e quando me viu em sua frente abriu um pequeno sorriso.
- Bom dia - ela disse enquanto se espreguiçava.
- O que aconteceu na noite passada, hein Mel? – eu perguntei tentando me lembrar.
- A gente foi pra casa do Léo, bebemos algumas cervejas, fumamos, e depois Léo te levou pro quarto. E minha parte eu não preciso contar, né ? – ela disse rindo, me fazendo rir também. – Relaxa , esse é só seu segundo cara depois do . Vão vir MUITOS ainda! – nós rimos enquanto andávamos a caminho do colégio.
- Ei ! – ouvi alguém chamando por mim e quando me virei vi . Ele estava com uma expressão estranha no rosto, e se aproximou de mim e de Mel. – Será que a gente pode conversar? É rápido – ele disse e eu concordei mesmo sem entender direito.
Olhei pra Mel e joguei um olhar de "Espera aí que eu já venho" e me virei de volta. Finalmente paramos em um canto qualquer do colégio.
- O que houve ? – perguntei.
- Eu... Preciso te dizer uma coisa . Não sei qual vai ser sua reação, mas eu preciso falar isso – ele parecia nervoso e confuso enquanto falava.
- Pode falar ! – eu disse tentando apressá-lo.
- É que... ... Eu... Ah, eu... Sei lá... Gosto... De você! – ele terminou de falar e ficou encarando os pés. Eu senti minhas bochechas corarem naquele exato momento. Fiquei sem reação. Sentia minha boca se mover lentamente como se eu quisesse dizer algo, mas nada saía. – Desculpa , mas eu precisava falar isso pra você – ele disse tentando quebrar o silêncio que se instalava entre nós.
- T-tudo bem , e-eu entendo v-você – eu disse gaguejando, mas não demonstrando nenhuma expressão. – Será que a gente pode conversar depois? Acho que agora não é uma boa hora... – eu falei e ele balançou a cabeça concordando.
Nós seguimos de volta pro local onde se encontrava Mel e Mark. Eu puxei Mel e acenei com a mão para os dois, que retribuíram com um sorriso.
– Mel, o se declarou! Ele disse que gosta de mim Mel! O que eu faço? Mel o que eu faço? Me ajuda! – eu falava rápido e chacoalhava Mel pra frente e pra trás rapidamente.
- Caaalma , por favor, calma! – ela falou me segurando pelos braços. – Você não pode falar que o ama! Você não o ama, né ? Você disse pra mim que... – e antes dela terminar a frase eu saí correndo. Ela ficou me olhando parada, sem reação.
Eu entrei em casa correndo e corri pro quarto. Agradeci mentalmente por minha mãe não estar em casa. Deitei na cama e abracei forte meu travesseiro. Por que aquilo estava acontecendo? Por que tinha dito aquilo pra mim? Eu gosto dele sim, mas não queria nada sério com ele, não agora que eu tava cheia de problemas. Acabei pegando no sono, e dormi por um tempo. Quando acordei dei um pulo da cama; tinha tido um sonho com e . Depois de tanto tempo eu já tinha até esquecido que elas existiam. Muita coisa tinha mudado na minha vida, inclusive eu. Não agüentava mais tantos problemas, e quanto mais eu fugia deles mais problemas apareciam.
- ! Por que você fez aquilo? Me deixou no meio do pátio igual uma idiota? O que aconteceu? Você tá bem ? – Mel se aproximou de mim e me abraçou preocupada. Eu balancei a cabeça positivamente.
- Eu to péssima Mel. E todas essas coisas estão me irritando! EU NÃO AGÜENTO MAIS MEL, NÃO AGÜENTO MAIS ISSO! – eu falei gritando e Mel me olhou assustada.
Ela me abraçou novamente apertando meu rosto contra seu peito.
- Vai ficar tudo bem . Eu to aqui com você. Eu não vou deixar que nada de ruim aconteça - ela sussurrou no meu ouvido enquanto lágrimas caíam com voracidade por meu rosto.
– Me leva daqui Mel? Me leva pra qualquer lugar, mas me tira dessa casa, por favor – eu falava com a voz falha.
Mel balançou a cabeça me puxando e correndo pra fora de casa.
CAPÍTULO 20
Mel tinha me levado para uma rua muito movimentada de Londres. Nós estávamos totalmente drogadas, tínhamos bebido muito e fumado maconha.
Desde que Mel apareceu, eu não tinha sido a mesma. Eu me vestia igual uma puta, com blusas decotadas e de barriga à mostra. Às vezes usava saias bem curtas e outras vezes umas calças super apertadas, mas sempre com os finos fios de minha calcinha à mostra. Eu descontava todos os meus problemas nas bebidas e nas drogas, e principalmente cortando meus pulsos.
tinha sua banda, e naquele mesmo dia ele teria que viajar. Ele ia me contar, mas eu fugi da escola e ele não conseguiu me achar depois. Eu sabia que se fosse por ele, eu não estava andando com a Mel e nem tinha me metido em tudo isso. Ele não sabia que eu usava drogas, ninguém sabia além de Mel, Léo e Mark, que também usavam. Eu não conseguia sair disso, eu me sentia bem.
Eu amava Mel como eu amava minha mãe. Pra mim, desde o dia em que ela apareceu em minha vida, eu dizia que ela foi a melhor amiga que eu já havia conhecido. Ela passou a morar comigo, sabendo que um dia teria que ir embora, assim como minha mãe tinha dito. Nós estávamos sempre juntas, e minha mãe tinha se acostumado a me ver saindo de casa de tarde e voltando só na manhã do dia seguinte.
Beth não falava mais comigo. Eu sempre a via, e ela me olhava com cara de pena e ao mesmo tempo raiva. Eu tinha me esquecido completamente de e , aquelas melhores amigas que eu tive durante anos.
Todas aquelas drogas que eu usava estavam me fazendo todo mal possível, só eu não conseguia enxergar. Eu e Mel saíamos de casa de tarde, íamos em lojas e roubávamos muitas roupas, claro que sem ninguém perceber. Voltávamos pra minha casa e escondíamos tudo em meu quarto.
Nos fins das tardes nós encontrávamos Mark e Léo, e sempre acabávamos acordando na manhã seguinte sem nos lembrar do que acontecia na noite anterior.
Léo tinha se tornado um segundo vício pra mim, eu sempre necessitava vê-lo, e sempre acabávamos além dos beijos. Se isso não acontecesse, eu ficava muito mal. Léo era como as drogas que eu usava, ele tinha seu efeito sobre mim.
Eu sempre pensava em , mas como eu falei, as drogas estavam acabando comigo. Tudo que passava pela minha cabeça sumia em fração de segundos, e novos pensamentos iam surgindo.
Minha vida estava por um fio, eu estava com notas vermelhas em todas as matérias da escola e não avisava minha mãe das reuniões. Cabulava aula pelo menos 3 dias na semana, e os outros 2 que eu comparecia a escola não fazia nada. estava viajando com a banda, porque eu sabia que se ele não estivesse ele iria estar me ajudando.
Definitivamente, eu estava acabando comigo.
- ! – minha mãe gritou entrando no meu quarto. Eu estava deitada na cama com Mel, e nós estávamos lendo algumas revistas. – Eu preciso conversar com você. Em particular! Vem pra cozinha e Mel, você espera aqui – ela dizia séria, muito séria.
Eu me levantei sem entender e olhei pra Mel, que também me olhava. Segui até a cozinha e parei perto de minha mãe.
- Que? – eu disse um pouco seca.
Há meses que eu não era a mesma pessoa, e há meses que minha mãe não significava muito pra mim.
- Eu fui chamada na sua escola. E será que eu preciso terminar de falar? SERÁ ? POR QUE VOCÊ NÃO ME AVISOU DAS REUNIÕES? POR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ FAZENDO OS SEUS DEVERES? - ela gritava desesperadamente. Aquela voz entrava pelos meus ouvidos e me atormentava, e eu fiquei rapidamente irritada.
- PÁRA DE GRITAR SUA LOUCA! EU NÃO DEVO SATISFAÇÕES PRA VOCÊ! VOCÊ NÃO SIGNIFICA NADA PRA MIM, ENTENDEU? NA-DA! – eu falei no mesmo tom de voz que ela falara comigo, e ela me olhava com cara de espanto e respirando depressa.
- Como ? Como você não me deve satisfação? Eu sou sua mãe ! SUA MÃE! – ela falara calmamente e depois voltou a gritar. – E ESSAS ROUPAS QUE VOCÊ ANDA USANDO? O QUE SÃO ESSAS ROUPAS MENINA? – ela dizia puxando minha blusa, mas eu a empurrei pra longe de mim.
- NÃO É DA SUA CONTA! – eu gritei e parei encarando-a nos olhos. – Eu não agüento essa vida que eu tenho, Clara. Eu odeio você, eu odeio o Stiven, eu odeio o Brian! Eu odeio todos vocês! E quanto as minhas roupas, eu sei muito bem cuidar de mim, e você não me diz o que fazer! – eu falava aumentando cada vez mais o tom de voz, e ficando cada vez mais irritada.
- Não fala assim comigo , eu sou sua mãe! Você pode odiar quem você quiser, mas você tem 15 anos e eu mando em você! – ela falava me chacoalhando, porém ela acabou rasgando minha blusa.
Em casa eu andava com blusas decotadas, mas sem mostrar a barriga, por causa do piercing. Ela não podia descobrir meus piercings.
– O que é isso no seu umbigo ? – ela olhava fixo em meu umbigo, com uma cara de surpresa.
- Um piercing mãe, não tá vendo? PIERCING! – eu falava dando risada. – E quer mais, quer? Olhaaa – eu disse mostrando a língua.
Minha mãe me olhava com os olhos cheios de lágrimas. Ela fazia uma cara de "Você não é minha filha, não a que eu criei". E deixou que as lágrimas rolassem por seu rosto.
– Você é ridícula Clara. Ridícula – eu falei olhando em seus olhos, também deixando que as lágrimas corressem por meu rosto. Virei de costas e saí andando. Vi Mel parada no vão da porta da cozinha, e eu sei que ela tinha escutado tudo. Puxei-a pelo braço e saí com ela batendo a porta da sala.
CAPÍTULO 21
Eu era uma menina normal. Tinha tudo que queria e a melhor mãe do mundo. Mas eu não era tão feliz quanto parecia. Tinha problemas até demais, que atormentavam minha vida. Só quando me mudei pra Londres que tudo ficou melhor. Melhor porque eu não enxergava o caminho que Mel estava me enfiando. Então pra mim estava tudo bem. As drogas me ajudavam a esquecer tudo. Mas, pra falar a verdade, eu estava com mais problemas do que tinha antes. Passou algum tempo depois do dia da discussão que eu tive com minha mãe. Já estavam mais ou menos normais as coisas entre a gente. Ela tinha conversado comigo e com a Mel, e nós iríamos sair essa noite com ela e com o idiota do Stiven. Mas, nós tínhamos um plano.
- Vocês estão prontas meninas? – minha mãe bateu na porta do banheiro, enquanto eu e Mel tomávamos banho.
- Só mais uns minutinhos Clara! – Mel respondeu e minha mãe voltou pra sala.
Um tempo depois nós já estávamos no cinema, na fila dos ingressos. Nós enrolamos minha mãe e Stiven e falamos que íamos assistir a outro filme, e quando fossem 11 horas a gente se encontrava na porta do cinema. Mas não era isso que a gente realmente faria.
- Mark, cadê a Mel, hein? – eu perguntei. Depois de alguns minutos que saímos do cinema e fomos para aquelas ruas movimentadas de Londres, Mel tinha sumido.
- Relaxa , ela deve estar se divertindo um pouco – ele disse dando um gole em alguma bebida dentro de uma garrafa preta. – Quer um pouco? – ele perguntou e eu balancei a cabeça positivamente, pegando a garrafa da mão e dele e virando em minha boca.
- Aaargh! Que merda é essa, Mark? – eu perguntei fazendo careta. Aquilo tinha um gosto horrível!
- Não sei, foi o pessoal ali que me deu – ele apontou para uns caras esquisitos.
- Ah, que seja. Eu vou procurar Mel – saí andando e fui seguindo em alguma direção da rua, olhando para todos os lados pra ver se eu a avistava.
Depois de muito tempo que eu a procurava, entrei em um supermercado pra comprar alguma bebida, e a vi saindo de uma porta junto de Léo.
- Mel! Onde você se enfiou? Eu tava te procurando e... – eu encarei Léo que estava com os cabelos bagunçados, e Mel também, com a blusa um pouco levantada e amassada. – Onde vocês estavam? – eu perguntei, mas eu não conseguia pensar direito. Eu estava com dores fortes na cabeça e via tudo girar, por causa da bebida que eu tinha tomado de Mark. Ela resolveu fazer efeito bem naquela hora.
- Nós estávamos ajudando uns caras do mercado , só isso! – Mel falou meio nervosa e me puxou pelo braço.
Eu estava começando a ficar fora de mim, mas Mel me levou logo pra casa pra me dar um banho, antes que minha mãe voltasse e percebesse. Ela ligou pra minha mãe e avisou que já tínhamos vindo embora, disse que o filme estava chato.
- Vamos dormir ok? Amanhã nós vamos com sua mãe na casa da minha tia . Boa noite – Mel disse e me deu um beijo na bochecha.
- Tudo bem... Boa... Noite – eu falei fechando os olhos e pegando no sono rapidamente.
CAPÍTULO 22
- , você tá bem? – perguntou fazendo sair de um transe.
Ele olhava fixo para o chão, e não falava nada desde que Beth ligara pra ele na manhã em que eles estavam voltando pra Londres.
- Não cara. Não to nem um pouco bem... – falou cabisbaixo. – A Beth me ligou, aquela amiga do , que ele apresentou pra gente um dia. E ela me contou umas coisas da . E eu to muito preocupado com ela! – ele disse com uma expressão triste no rosto.
- Calma cara, a gente chega daqui a pouco lá e você procura por ela. Fica calmo – dizia tentando acalmar .
Ele balançou a cabeça concordando, e virou-se para o vidro do ônibus. Eu não conhecia ninguém da banda a não ser e . Eles conheceram Beth porque e ela eram tão amigos quanto ele era meu amigo. E um dia acabou apresentando-a para os meninos da banda, já eu nunca tinha tempo pra isso. Eu estava ocupada com outras coisas...
- Entrem! – a tia da Mel falou abrindo passagem, enquanto nós entrávamos em sua casa. – O que te trás aqui Clara? – ela sorriu sentando-se no sofá e batendo com a mão na almofada do mesmo, para que minha mãe se sentasse também.
- Meninas, vão lá pra fora. Eu preciso conversar com sua tia Mel, e é um assunto de adulto – minha mãe falou e nós concordamos saindo de lá e sentando na grama, esperando por ela.
Alguns 40 minutos depois nós nos despedimos da tia da Mel, e fomos para casa.
- Mel, você vai poder morar aqui, tá bem? Sua tia está muito doente, e não vai poder tomar conta de você. Por isso, eu disse que me responsabilizava – minha mãe conversava comigo e com Mel em seu quarto. Quando ela terminou de falar, nós começamos a gritar dando pulinhos de alegria.
- Eu te amo Clara! – Mel deu um beijo na bochecha de minha mãe e me puxou, e nós corremos para o meu quarto.
- pára com isso! Deixa de ser paranóico. A menina deve estar muito bem, e se ela se importasse com você ela te ligaria! – falava para o garoto, que queria me procurar.
Ele estava realmente preocupado. Beth tinha dito pra ele o jeito que eu me vestia desde que ele se foi e que eu havia me aproximado mais de Mel. Ela contou que eu fumava todos os dias e sempre estava com garrafas de bebidas estranhas nas mãos.
- eu me importo com ela, e é isso que importa! – levantou do sofá onde eles se sentavam e bateu a porta atrás de si.
Ele caminhava rapidamente pelas ruas de Londres, com suas mãos nos bolsos. Ele queria esfriar a cabeça, e resolveu ir beber alguma coisa.
- Me bate! – eu falava enquanto passava as mãos por meu rosto que estava totalmente adormecido. Eu não o sentia, era como se eu não tivesse face. – Vai Mel, me bate! Me dá um tapa! – eu falava sorrindo, estava como sempre com dores fortes na cabeça, e era a única coisa que eu sentia. Mel virou um tapa na minha cara, que eu não senti. Começamos a rir.
- Agora me bate você! – ela falou e eu rapidamente bati no rosto dela. – Eu não to sentindo NADA! - ela falou se jogando na cama.
Nós ríamos e toda hora batíamos uma na outra. Nós estávamos nos drogando com lança, que dava um efeito dormente no corpo.
- Me dá um soco Mel. Vai, me dá! – eu falava meio zonza, e ela apenas ria. Ela virou um soco no meu rosto que me fez cair da cama. – Ai Mel... Sangrou – eu disse e comecei a rir, passando as pontas dos dedos no meu nariz, que saía sangue.
- Sua vez, me dá um soco ! – ela falou aproximando o rosto. Eu virei um soco no rosto dela, que fez sangrar também. Nós ríamos muito, até que eu pedi pra ela me socar de novo, mas dessa vez eu bati com a cabeça com força no criado-mudo da cama. – ? Você tá bem? – ela desceu da cama e sentou em cima de mim. Eu tinha caído no chão, e ela me chacoalhava esperando que eu respondesse, mas eu tinha desmaiado.
- Mel, , venham comer! E hoje nós vamos almoçar aqui na varanda, não demorem! – Clara falou batendo na porta. Mel deu um grito dizendo: "Tá bom, nós já vamos" e tentou me acordar.
CAPÍTULO 23
Depois de uns minutos Mel conseguiu me acordar, passou maquiagem em nossos rostos, pois estavam machucados, vestimos roupas engraçadas para parecer que estávamos fazendo alguma brincadeira, para que eles não notassem os machucados, e fomos pra varanda.
- E aí pessoal! – Mel disse se aproximando da mesa, e eu fiz o mesmo. Minha mãe, Brian e Stiven olhavam para nós com cara de espanto.
- O que é isso meninas? Que roupas são essas? – minha mãe perguntou sem entender.
- A gente só tava se divertindo mãe! Que saco, hein? – eu respondi me sentando.
Mel deu risada e sentou do meu lado. Nós comemos em completo silêncio, ninguém disse uma palavra durante o almoço.
Ouvi a campainha tocar quando tinha acabado de sair do banho. Enquanto eu me trocava, minha mãe gritou que era pra mim. Terminei de colocar uma roupa e fui atender.
- ? – olhei pra ele com cara de espanto. – Eu pensei que você estivesse viajando! – falei sorrindo.
- É, eu voltei hoje. E aí, tá tudo bem? – ele perguntou sorrindo, mas eu percebi que ele estava forçando.
- Tá, sim. E com você?
- Tá tudo ótimo também... – ele falou balançando com o corpo pra frente e pra trás.
- Oi gente! – Mel apareceu na porta e mudou sua expressão para uma de raiva, misturada com tristeza.
- , mais tarde eu passo no prédio do Mark, você vai estar lá? – eu perguntei encarando-o.
- Não, passa nesse endereço aqui – ele me entregou um papel onde estava anotado um endereço. – Passa ainda hoje, por favor – ele pediu e sorriu fraco, acenando para nós e virando-se. Fechei a porta e entrei com Mel.
Quando eram 18 horas, eu resolvi ir até o endereço que tinha passado. Mel estava dormindo, depois do péssimo dia que a gente tivera; era a minha vontade também. Mas eu estava curiosa pra saber por que de ele querer tanto que eu fosse lá. Depois de alguns minutos me vi parada em frente a uma porta de tom claro, e toquei a campainha.
- . Pode entrar – abriu a porta com a mesma expressão fria que estava quando foi em casa.
As ruas londrinas estavam geladas, mas eu ainda não sentia direito meu corpo. Fazia tempo que eu não tinha sensação alguma, não vinha de hoje. Eu entrei e vi 3 garotos sentados no sofá, e um deles era .
- AAAH !!! – eu dei um berro e saí correndo em direção a ele, que se levantou abrindo os braços e com um sorriso estampado no rosto. – Que saudades de você! Como você tá? Como foram os shows? Me contaaa! – eu perguntava dando pulinhos de alegria, enquanto os outros garotos me encaravam rindo.
- Também estava com muitas saudades mocinha! Foi maravilhoso. Foi tudo bem ! E você como está? – ele me perguntou e eu fui tirando a expressão feliz do rosto devagar.
- Tá... Tudo bem... Tá tudo bem sim – eu disse, sorrindo fraco. Mas ele pareceu não gostar muito da cara que eu fazia.
- , esses são e , os outros caras da banda que você não conhecia – disse apontando para os outros dois meninos que estavam no sofá com latinhas de cerveja nas mãos.
- Olá – eu falei tentando parecer simpática. Eles responderam um "oi" simpático, e voltaram a atenção a suas latinhas, que na verdade era um disfarce para eu não perceber que eles prestavam atenção em cada gesto meu. – , você queria falar comigo? – eu perguntei encarando agora .
Ele balançou a cabeça positivamente, me puxando pelo braço e seguindo comigo até a cozinha. Chegando lá ele puxou uma cadeira pra que eu me sentasse, e ele fez o mesmo.
- , o que tá acontecendo com você? – ele perguntou rapidamente, sem tirar seus olhos dos meus. Eu olhei confusa pra ele, perguntando a mim mesma em meus pensamentos por que ele queria saber aquilo.
- Não tá acontecendo nada! Por que a pergunta? – eu respondi normalmente, tentando não parecer estranha.
- , eu sei que está. A Beth me ligou pouco antes de eu e os meninos voltarmos para Londres, e ela me disse que você mudou muito – ele falava encarando a mesa, e eu rapidamente mudei minha expressão normal para uma de raiva. – Ela disse que vê você todos os dias fumando, e que você sempre está com garrafas de bebidas que nem ela reconhece – ele terminou de falar e olhou pra mim.
De repente ele se inclinou um pouco para trás ao ver minha expressão de raiva, e ver que lágrimas corriam por meu rosto com voracidade, borrando minha maquiagem e deixando a vista todos meus machucados da tarde de hoje.
– , você está bem? – ele perguntou com uma fisionomia totalmente preocupada, mas eu não dei tempo para que ele dissesse mais nada.
- O que aquela idiota tem a ver com a minha vida? E por que ela tem que ligar pra você e fazer fofoquinhas sobre MINHA vida, hein ? ME FALA! – conforme eu falava aumentava meu tom de voz, fazendo com que os meninos na sala ficassem preocupados. – Ela não tem nada a ver com os meus problemas, NINGUÉM TEM NADA A VER COM A MINHA VIDA! Já não basta a minha mãe que pega no meu pé todos os dias, e agora as fofoqueiras do colégio? AH MEU DEUS! ERA SÓ O QUE FALTAVA MESMO! – eu terminei de falar enxugando algumas lágrimas com as costas das mãos e saí andando.
Antes que eu pudesse abrir a porta que separava a cozinha da sala, puxou meu braço fortemente.
- O que são esses machucados em seu rosto? – ele perguntou encarando meus olhos, mas eu não tive resposta. Não podia contar pra ninguém.
- Você tá me machucando! – eu puxei meu braço rapidamente e abri a porta, saí correndo até a porta da sala deixando e os outros garotos espantados.
- O que deu nela ? – perguntou assustado.
- Me deixem em paz! – falou e subiu as escadas correndo, batendo a porta de seu quarto.
- Eu vou atrás dela – falou e se levantou do sofá, abriu a porta rapidamente e alguns segundos depois de correr para me alcançar, puxou meu braço.
- O que aconteceu? Por que você saiu de lá daquele jeito? – ele perguntava respirando rapidamente. Eu continuava chorando, e meus machucados iam ficando cada vez mais visíveis. – ! O que são essas marcas no seu rosto? – ele tentou aproximar as mãos do meu rosto, mas eu bati nelas impedindo a ação.
- PÁRA! PÁRA DE ME FAZER TANTAS PERGUNTAS! PELO AMOR DE DEUS EU NÃO AGÜENTO MAIS ISSO! – eu me virei e corri deixando sem ação.
CAPÍTULO 24
Acordei num banco de uma praça. O dia parecia ter acabado de nascer; eu levantei rapidamente e comecei a andar, tentando descobrir onde eu estava. Andei até encontrar o caminho pra casa, aonde cheguei e todos preocupados começaram a falar juntos, me deixando louca.
- CALEM A BOCA! – eu gritei encarando minha mãe, Mel e Brian que pararam de falar assustados.
Encarei-os por um instante, e corri pro banheiro. Retirei toda aquela roupa gelada que cobria meu corpo, liguei o chuveiro e deixei que a água quente escorresse por todo meu corpo. Depois do banho entrei em meu quarto. Aproveitei que Mel não estava lá e a primeira coisa que fiz foi colocar minha munhequeira, que cobria os cortes e machucados do meu braço. Coloquei um top preto e joguei uma jaqueta preta jeans por cima. Coloquei uma calça jeans qualquer e calcei meu All Star. Fiz uma trança de cada lado nos meus cabelos, passei uma maquiagem para esconder os machucados, e segui para a cozinha.
- Vamos Mel – falei encostada no vão da porta enquanto observava Mel se levantar da mesa onde tomava café com minha mãe e Brian.
O silêncio permanecia no local, eu apenas saí andando em direção a porta da sala.
- O que te deu pra sumir assim ? – Mel perguntava calmamente.
- Sei lá Mel. Como muitos dias atrás eu não me lembro o que aconteceu na noite passada. Eu só lembro de ter acordado no banco de uma praça, depois de ter discutido com e – eu falava encarando os pés.
Peguei um cigarro do meu bolso e acendi, passando a caixa pra Mel.
- Esquece isso . Foi só uma noite ruim. Vai passar – Mel me abraçou e fomos o caminho inteiro abraçadas.
Ela parecia ser minha única esperança. Pena que eu estava totalmente enganada.
Depois do colégio eu e Mel não voltamos pra casa. Nós fomos ao supermercado e compramos muitas bebidas, bebidas que nós mesmas não sabíamos dizer o que era. Passamos a tarde em uma pracinha, bebendo. Não chegamos a ficar muito bêbadas, por um grande milagre. O sol havia se posto e nós saímos a caminho das famosas ruas movimentadas de Londres. A noite estava quente. Eu tirei minha jaqueta jeans ficando apenas com o top que cobria apenas meus peitos. Mel estava com uma blusinha decotada, bem decotada, e de barriga à mostra. Nós entramos em um barzinho, enquanto Mel foi ao banheiro eu fiquei virada para o balcão, observando uma placa com as comidas e bebidas.
- Nossa, que menina linda! – escutei uma voz masculina, e logo me virei pra dar uma resposta.
- Se liga idiota, não sou pro... – quando eu me virei completamente vi meu irmão ao lado do menino que estava me olhando. Brian me olhou dos pés a cabeça.
- Como você pode ser tão vadia assim ? A mamãe vai ficar sabendo disso hoje mesmo! – ele falou se virando e saindo do bar.
- CUIDA DA SUA VIDA BRIAN! – eu disse gritando e todos voltaram suas atenções para mim. Quando avistei Mel saindo do banheiro, peguei a mão dela e corri pra fora do barzinho.
- Mãe, eu preciso falar com a senhora muito sério – Brian disse quando me viu entrando pela porta da sala.
Eu já estava com minha jaqueta jeans novamente, para que minha mãe não me visse naquele estado.
- Cala a boca seu idiota, por que você não cuida da sua vida? – eu falei indo em direção a ele, mas Mel me segurou.
Ela lançou um olhar pra Brian que deu medo até em mim, e entramos no quarto.
- Ele não vai falar nada , relaxa – ela falou acendendo um cigarro e jogando o maço pra mim.
- Se falar eu o mato. Ah se mato! – eu disse fazendo Mel rir.
Nós ficamos ali fumando, e depois nos trocamos e fomos dormir. Minha mãe tinha perdido o costume de dar boa noite para nós. Ela não entrava no meu quarto fazia um bom tempo.
CAPÍTULO 25
Sábado tinha sido um dia normal pra mim e Mel. Passamos fora de casa, bebendo com Mark e Léo, e depois fomos pra casa do Léo. Mas, naquela noite, resolvemos dormir em casa.
- Bom dia Clara! – Mel disse aparecendo na cozinha seguida de mim, que disse, quase resmungando, um bom dia pra minha mãe.
- Bom dia. Comam e se troquem rápido, nós vamos sair. Nós três vamos sair – minha mãe falou séria e saiu da cozinha deixando eu e Mel com cara de interrogação.
Nós fizemos o que ela tinha mandado, e depois de demorados 45 minutos, estávamos no carro de minha mãe. Ela parou em frente à casa da tia de Mel. Eu tinha me esquecido completamente de dar o recado pra Mel. Sua tia ligara dizendo que havia melhorado, e que ela teria que voltar a morar lá.
- Bom dia garotas! – a tia dela abriu a porta com um sorriso no rosto, diferente de todas nós. Entramos e nos acomodamos no sofá.
- Você falou com a Mel, ? – minha mãe perguntou e no mesmo instante Mel olhou pra mim.
- Eu... Me esqueci... Mãe – eu disse lentamente. Mel me encarava com certa expressão de desentendida no rosto.
- Sua tia está melhor Mel. Isso significa... – antes que minha mãe pudesse terminar, Mel levantou do sofá.
- Significa que eu vou ter que voltar pra cá? – ela disse em um tom de voz elevado. Minha mãe balançou a cabeça concordando. Mel me encarou com uma expressão de raiva e saiu correndo, e eu fui atrás dela.
- Espera Mel! – eu gritava enquanto ela entrava em um pequeno portão de madeira, dando vista a um terreno baldio. Ela se apoiou em um cano e começou a chorar. – Mel me desculpa... Eu... Eu tinha me esquecido completamente disso – eu disse baixo, mas ela me ignorava. Eu resolvi sair de lá e dar um tempo pra ela pensar.
No dia seguinte fui pra escola sozinha. Mel não tinha dado sinal de vida. Inclusive no colégio. Eu entrei na sala chegando atrasada, e todos me encararam. Sentei rapidamente em uma cadeira. me olhava com uma expressão triste.
- Com licença se usa, dona ! – o professor disse me encarando. – Você fez o trabalho que era pra hoje? – ele perguntou e eu rapidamente olhei pra ele com cara de espanto. – Eu sabia , eu sabia.
Saí do colégio e fui até um posto onde eu e Mel costumávamos ir para comprar bebidas. Comprei uma garrafa de vodka, sentei na grama e dava pequenos goles na bebida. Eu estava me sentindo um lixo. Levantei e segui até uma placa grande. Tirei meu celular da bolsa e disquei o número de Mel.
- Mel? Sou eu a . Vem me buscar, eu to em frente ao posto – eu falava alto, pois a ligação estava longe.
- Mel? Alô? Mel você tá me ouvindo? – foi a última coisa que eu disse, a ligação caiu.
Meus últimos dias foram difíceis. Mel tinha sumido, não tinha dado notícias desde o dia em que brigamos, eu o via às vezes na escola, mas sempre com atenção em outras coisas.
Um dia qualquer eu resolvi correr. Sair um pouco e me exercitar. Eu me senti fraca e parei, sentindo muita dor em meu pulso que eu cortava freqüentemente.
Eu fui convocada no colégio por uma professora que, quando eu era uma boa aluna, me adorava.
- , não tem mais jeito. Na situação que você está você vai repetir o primeiro ano – ela falava desapontada. Ela sempre dissera que eu era uma de suas melhores alunas.
- O-o quê? – eu não acreditava. Com tantas coisas acontecendo, mais essa?!
Claro que era óbvio que isso ia acontecer, mas se passavam outras coisas em minha mente.
Eu saí correndo da sala e segui para casa. Assim como meus dias estavam sendo horríveis, o tempo parecia concordar com o céu nublado. Eu estava horrível. Pálida, com olheiras, e não escondia mais meus machucados atrás de maquiagens. Caminhava pelas ruas solitárias de Londres. Quando abri a porta de casa, encontrei minha mãe chorando e a tia de Mel sentada no sofá ao lado de minha mãe. Quando olhei para a escada vi Mel, que correu até mim e me puxou. Nós subimos as escadas correndo, e ela parou virando-se pra mim na porta do meu quarto.
- Eu te amo . Eu sempre te amei e sempre vou te amar. Por favor, acredita em mim – ela falou e me puxou, abraçando-me.
Eu fiquei sem ação, sendo abraçada por Mel, que voltou a caminhar em direção as escadas. Nós descemos lentamente, chegando na sala e sentando em um sofá de frente pra minha mãe e a tia de Mel. Minha mãe chorava e me encarava sem expressão. Ela pegou uma caixa, abriu-a e despejou tudo que se encontrava dentro daquela caixa. Eu pude ver minha expressão de susto quando caíram de dentro da caixa cigarros, comprimidos de drogas, lâminas, garrafas de bebidas, muito dinheiro, e algumas jóias.
- O que significa tudo isso ? – minha mãe perguntava com a voz falha, deixando lágrimas correrem por seu rosto vorazmente. Eu fiquei sem ação e olhei pra Mel.
- VOCÊ CONTOU PRA ELAS? – eu gritei e não pude evitar minhas lágrimas, que faziam meu rosto arder por causa de meus machucados.
- Eu... Não tive escolhas ... Eu... Tive... Que contar – Mel falava de cabeça baixa.
- Você não podia ter feito isso comigo Mel! Não podia! Eu confiava em você, só em você! E você me traiu dessa forma? Eu não acredito Mel! – eu falava em um tom de voz alto e chorava desesperadamente.
- Eu sinto muito Clara, mas minha Mel não pode continuar no mesmo ambiente que você e sua filha. é completamente viciada, e levou Mel pra esses caminhos – a tia de Mel falava, mas eu não pude acreditar no que eu tava escutando.
- COMO ASSIM EU SOU VICIADA? ANTES DE EU CONHECER A MEL EU ERA TOTALMENTE DIFERENTE! QUE MERDA QUE VOCÊ DISSE PRA ELA MEL? – eu gritava sendo segurada pela minha mãe, que me impedia de bater na garota.
- Ela não disse nada mais que a verdade mocinha! E pare de bancar a inocente! Você sabe muito bem que a única vadiazinha drogada aqui é você! – a tia de Mel falava em um tom alto, enquanto Mel, abraçada a ela, chorava ou estava fazendo mais um de seus teatrinhos.
- Saiam da minha casa agora! Você não tem direito nenhum de falar assim da minha filha! Vão, saiam daqui! Já! Saiam! – minha mãe dizia ainda me segurando, enquanto Mel se soltava do abraço de sua tia.
- Eu te odeio Clara! Eu... Eu te odeio e odeio esse lugar! Essa casa fede! – ela falava chorando e alterando seu tom de voz, seguindo pra porta da sala junto com sua tia.
Elas saíram de lá e bateram a porta. Eu corri pra cozinha e minha mãe me seguiu, me puxando para seus braços. Eu chorava muito e não conseguia me conter.
- Me solta mãe! - eu gritava chorando e me debatia entre os braços dela, que estavam me prendendo.
- Eu não vou te soltar, eu não vou. Vai ficar tudo bem. Eu vou te ajudar. Eu te amo minha filha, vai ficar tudo bem - ela dizia baixo acariciando meu corpo.
Eu chorava cada vez mais e fui me abaixando lentamente até cair sentada no chão. Minha mãe continuava ali, levantando minha blusa e observando todas as manchas e machucados do meu corpo. Ela chorava em silêncio, e acariciava todo lugar que encontrava um machucado. Nós ficamos abaixadas ali, encostadas no balcão da pia durante um tempo, onde a única coisa que quebrava o silêncio do local eram nossos choros.
Mel tinha mentido pra tia dela. Ela contou tudo ao contrário, dizendo que eu que a tinha levado para o caminho das drogas. Minha mãe sabia exatamente o que tinha acontecido, mas ela sabia que gritar e protestar não ia mudar a opinião de ninguém. Ela sabia que eu era uma menina normal e nunca tinha colocado uma gota de álcool na boca, mas ela não tinha se tocado de tudo que estava acontecendo desde que Mel aparecera em nossas vidas. Minha mãe me levantou, desencostando-me do balcão e seguiu até meu quarto. Ela me deitou em minha cama, e depois deitou atrás de mim, me abraçando e acariciando minha bochecha com seu polegar. Ficamos ali até eu adormecer, de tanto chorar.
CAPÍTULO 26
Acordei mais tarde e abri os olhos lentamente. Minha mãe dormia; eu levantei lentamente pra não acordá-la e peguei o endereço que tinha me dado aquele dia, dentro do bolso de uma calça que estava jogada no chão do quarto. Segui até a porta da sala e fechei-a devagar. Andei pelas ruas frias de Londres até chegar em frente à casa que eu tinha ido a alguns dias atrás. Encarei a porta e resolvi tocar a campainha.
- ? Meu Deus! O que aconteceu com você? Entra, vem! – ele me puxou pelo braço e depois que entrei, bateu a porta atrás de nós. Ele me sentou no sofá e me encarava assustado. – Você quer um copo de água ? Quer alguma coisa? Você precisa de alguma coisa? Ele perguntava encarando meus olhos e segurando minhas mãos, e tinha uma expressão muita assustada.
- Na verdade, eu preciso sim – eu encarava seus olhos azuis, com meu rosto pálido e cheio de machucados. – Eu preciso de você – eu falei baixinho e ele tirou sua expressão de susto com um pequeno sorriso.
Ele se aproximou de mim lentamente até nossos narizes se encostarem. Eu fechei os olhos, sentindo o choque que causava sua respiração quente sobre meu rosto gelado. Senti nossos lábios se tocarem, até passar sua língua por eles que se abriram devagar. Depois de minutos que nos beijávamos apaixonadamente, eu parei o beijo e encarei seus olhos, com meus braços entrelaçados em seu pescoço. Eu não continha as lágrimas que teimavam em cair de meus olhos. Sorri fraco pra ele, e encostei nossas testas, ainda encarando aqueles lindos olhos azuis.
- Eu te amo . Eu sempre te amei, e sempre vou te amar.